Dias de Notícias

Notícias escritas e assinadas por mim, Marcelo Dias, a partir de 1998.

domingo, abril 19, 1998

Inara queria assumir a rota do pó no Rio

Traficante presa na segunda-feira revelou conexão carioca do tráfico

RIO (Extra) - A prisão da traficante internacional Inara Medeiros de Freitas, segunda-feira passada, revelou que a conexão carioca do fornecimento de drogas levadas da Colômbia para os Estados Unidos e para a Europa permanece nas mãos de um mesmo grupo há quase 20 anos.

Segundo a Polícia Federal e a Polícia Civil, Inara fugiu da Suíça - onde foi condenada em 1989 por conspiração para o tráfico de drogas - e voltou ao Rio em junho do ano passado, para reassumir o comando da operação.

Até 1984, ela dividiu essa função com o tenente PM Luiz Paulo Ferreira Medrado. Os dois forneciam pasta de cocaína para o traficante Toninho Turco (morto na Operação Mosaico, em 1988). Turco controlava 60% do mercado de drogas do Rio. Naquele ano, Inara foi presa por duplo homicídio, mas fugiu do presídio feminino Talavera Bruce, deixando o controle da organização com Luiz Medrado.

Na Suíça, Inara trabalhou com o traficante Michel Frank, responsável pela distribuição das drogas para o resto da Europa. Frank ficou conhecido pelo Caso Cláudia, quando matou, em 1977, Cláudia Lessin Rodrigues.

Em 1989, foi a vez de Medrado fugir para a Suíça. Desde então, Isaías Pereira Cabral ocupava o posto principal da organização. No início do ano, ele foi preso no Rio.

Traficante recrutava 'mulas'

Cabeça da organização desde 1989, Isaías Pereira Cabral passou despercebido até 1994, quando a polícia italiana começou a investigá-lo depois de prender em Roma dois comissários de bordo da Varig que atuavam como "mulas" (pessoas que transportam drogas).

No Brasil, o nome de Cabral só surgiu em abril de 1996, quando a Polícia Federal prendeu no Aeroporto Internacional do Rio o colombiano Henry Pyneda, homem forte do Cartel de Cáli. Na época, Isaías Cabral se apresentou como seu advogado.

No início de 1998, também no Aeroporto Internacional, Isaías Pereira Cabral foi preso com Temístocles Pereira Torres (responsável pelo embarque das drogas e integrante da antiga Conexão PanAm, desmantelada em 1983) e o italiano Salvatore Bataglia, principal distribuidor de cocaína no Sul da Itália.

Para a delegada Márcia Julião, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Inara de Freitas estava recrutando menores como "mulas". Segundo ela, os documentos falsos que ela vinha usando desde 1984 foram fornecidos pelo advogado Edson Javoviski, um indício de que sua volta era apenas questão de tempo.