Dias de Notícias

Notícias escritas e assinadas por mim, Marcelo Dias, a partir de 1998.

sexta-feira, fevereiro 05, 1999

Metralhado conjunto da PM

Diversas vidraças foram estilhaçadas pelas balas

RIO (Extra) - Até onde viver sob a proteção, ou melhor, sob o teto da polícia é significado de segurança? Vizinhos do Complexo do Alemão, os moradores do conjunto habitacional da Polícia Militar, em Olaria, convivem com a ameaça diária de ter sua rotina interrompida por uma bala perdida. Ontem de madrugada, um tiroteio entre policiais do 16 BPM (Olaria) e traficantes do morro resultou em projéteis que estilhaçaram janelas de dois apartamentos do lugar.

Nem mesmo a presença do batalhão da PM é capaz de inibir a audácia dos traficantes. Basta andar um pouco por ali para verificar diversas marcas de balas nos edifícios do conjunto. Desta vez, os PMs perseguiram ocupantes de um carro roubado, com quem trocaram tiros pelas ruas próximas aos prédios. Por volta das 4h, os bandidos entraram com o veículo no Complexo do Alemão, onde outros homens armados já posicionados também atiraram contra os policiais.

- Foi o maior pânico. Estávamos dormindo no chão da sala por causa do calor. Acho que a bala desviou em algum lugar, porque está raspada em um dos lados. Outro dia, o zelador encontrou duas balas no chão - contou o motorista Paulo Sérgio, de 29 anos, que só teve tempo de levar para um dos quartos da casa a mulher, Andréa Reis, também de 29, e as filhas Paula e Ariane, de 2 e 7 anos, respectivamente.

Assustada com o episódio, Andréa quer se mudar imediatamente para outro lugar:

- A bala vinha na direção da Ariane. Vamos sair daqui. Moramos no conjunto da polícia e não temos segurança - reclamou ela, enquanto ironizava e observava o estrago na janela.

Diante dessa situação, talvez apenas fatores sobrenaturais ou divinos possam providenciar alguma segurança a essas pessoas. Como a imagem de Nossa Senhora, que, por coincidência, estava posicionada como se observasse o buraco aberto por uma bala na janela de Cilone Viana, de 32 anos. A sogra dela, Maria Germana, de 50 anos, dormia no quarto em que o projétil entrou, indo alojar-se dentro de um armário.

- Moro aqui há 20 anos e isso nunca havia acontecido. No início, pensamos que o estado de saúde da minha sogra, que tem problemas cardíacos, tivesse piorado. Ela começou a chorar e ficou tão abalada que tomou calmantes para poder dormir - disse ela, descartando a possibilidade de abandonar o apartamento, que é vizinho ao de Paulo Sérgio.