Fechada clínica de abortos
Polícia invade casa onde mulheres aguardavam cirurgia e prende seis pessoas
RIO (Extra) - Paredes falsas, salas secretas, portas blindadas e um prédio aparentemente abandonado camuflando leitos e salas cirúrgicas. Foi este o cenário encontrado ontem pelos 15 policiais que interditaram ontem de manhã o Centro Médico Santo André (Cemesa), na Rua Dona Mariana 218, em Botafogo, por prática ilegal de aborto. A clínica, que pertence a Evangelista Pinto da Silva Pereira, já havia sido fechada antes pelo mesmo motivo, mas desta vez o planejamento e requinte utilizados para enganar a polícia superaram a imaginação de qualquer roteirista dos filmes da série 007.
Comandada pelo delegado-adjunto José Renato Torres do Nascimento, da 10 DP (Botafogo), a operação contou com o apoio do Serviço de Ações Táticas Especiais (Sate) e do Esquadrão Anti-Bombas, além de dois peritos e uma ambulância do Corpo de Bombeiros. Autorizados por um mandado de busca, apreensão e arrombamento expedido no dia anterior pelo juiz Moacir Pessoa de Araújo, da 17 Vara Criminal, os policiais chegaram à clínica às 10h.
Assim que entraram, os agentes se depararam com uma porta blindada com dez centímetros de espessura, que protegia um centro cirúrgico. Os policiais arrombaram a porta com um aríete e invadiram um dos centros cirúrgicos do lugar, interrompendo um aborto que acontecia naquele momento. Mais adiante, a surpresa. Escondida por uma estante, uma parede falsa dava acesso a uma sala, que por sua vez, levava a outra parede falsa e a outro compartimento, onde foram encontradas dez mulheres, três enfermeiros e dois médicos. Todas as paredes eram revestidas pelo mesmo tipo de papel, dificultando sua identificação.
- Nunca vi nada igual, exceto em esconderijos de traficantes, como o deMarcelo PQD - surpreendeu-se o delegado.
Dali, a polícia descobriu a ligação com o prédio vizinho (220), onde dezenas de quartos eram usados como salas cirúrgicas e leitos de repouso. Seis pessoas foram presas em flagrante, entre elas dois médicos. Ao todo, havia 15 pacientes na clínica. Cinco delas foram submetidas ao aborto, cinco aguardavam sua vez e o resto estava na recepção. Em uma terceira sala falsa, foi encontrado um triturador usado para mutilar os fetos extraídos, protegido por uma funcionária que passou mal e precisou ser socorrida pelos médicos.
O cerco começou há meses
A investigação que levou a interdição do Centro Médico Santo André (Cemesa) começou há quatro meses, a partir do inquérito 264/98, no qual o fotógrafo Flávio Heyd Pingarrilho foi detido por seguranças do lugar e mantido em cárcere privado por 20 minutos, no dia 13 de julho.
Como já havia casos e interdições anteriores denunciando a existência de uma clínica de abortos no local, o delegado Cyro Advíncula encaminhou à 17 Vara Criminal um requerimento de mandado judicial para invadir a clínica.
As suspeitas se concretizaram mais uma vez. Sob a fachada de clínica ginecológica, a Cemesa usava o prédio vizinho para fazer abortos. Por enquanto, só os quartos de dois dos cinco andares do lugar eram utilizados efetivamente. Os demais estavam para entrar em operação, expandindo os negócios de Evangelista Pereira, procurado pela polícia.
As consultas ginecológicas custam R$ 150. Os abortos saíam por R$ 850. Entre as pacientes, havia gente de Brasília e Belo Horizonte, comprovando a fama do lugar. Havia ainda um estacionamento com sala de espera para parentes.
Duas pacientes acusam médico
Duas das mulheres que se submeteram ao aborto confessaram o crime e reconheceram o médico Ivan Sartori como o responsável pelas cirurgias. Elas pagaram fiança de R$ 45, mas respondem por consentimento de aborto. Além de Ivan Sartori, foram presos em flagrante o médico Walter Cardoso Franco, as enfermeiras Isa Cristina Ribeiro Batista, Márcia Cristina Ferreira Prol Lopes e Simone da Silva Evaristo, e o segurança Jorge dos Santos.
A polícia procura agora pelo dono da clínica, Evangelista Pinto da Silva Pereira. Todos eles foram indiciados no artigo 126 (prática de aborto) e podem pegar de um a quatro anos de prisão, sem direito a fiança. Segundo o delegado titular da 10 DP, Cyro Advíncula, a Cemesa só não foi fechada definitivamente em ocasiões anteriores porque não havia provas suficientes.
- É dificílimo. Desta vez, tomamos uma série de cuidados. Temos o reconhecimento dos médicos, confissão e farto material. Parecia coisa de 007 - explicou.
Dentro da Cemesa, um circuito interno de TV alertava para a aproximação policial. Enquanto a polícia tentava invadir o local, os médicos escondiam as pacientes e os equipamentos cirúrgicos. Biscoitos e copos de mate largados no chão denunciavam a pressa em apagar todas as pistas. Dos cinco andares do prédio anexo, pelo menos dois funcionavam a pleno vapor.
RIO (Extra) - Paredes falsas, salas secretas, portas blindadas e um prédio aparentemente abandonado camuflando leitos e salas cirúrgicas. Foi este o cenário encontrado ontem pelos 15 policiais que interditaram ontem de manhã o Centro Médico Santo André (Cemesa), na Rua Dona Mariana 218, em Botafogo, por prática ilegal de aborto. A clínica, que pertence a Evangelista Pinto da Silva Pereira, já havia sido fechada antes pelo mesmo motivo, mas desta vez o planejamento e requinte utilizados para enganar a polícia superaram a imaginação de qualquer roteirista dos filmes da série 007.
Comandada pelo delegado-adjunto José Renato Torres do Nascimento, da 10 DP (Botafogo), a operação contou com o apoio do Serviço de Ações Táticas Especiais (Sate) e do Esquadrão Anti-Bombas, além de dois peritos e uma ambulância do Corpo de Bombeiros. Autorizados por um mandado de busca, apreensão e arrombamento expedido no dia anterior pelo juiz Moacir Pessoa de Araújo, da 17 Vara Criminal, os policiais chegaram à clínica às 10h.
Assim que entraram, os agentes se depararam com uma porta blindada com dez centímetros de espessura, que protegia um centro cirúrgico. Os policiais arrombaram a porta com um aríete e invadiram um dos centros cirúrgicos do lugar, interrompendo um aborto que acontecia naquele momento. Mais adiante, a surpresa. Escondida por uma estante, uma parede falsa dava acesso a uma sala, que por sua vez, levava a outra parede falsa e a outro compartimento, onde foram encontradas dez mulheres, três enfermeiros e dois médicos. Todas as paredes eram revestidas pelo mesmo tipo de papel, dificultando sua identificação.
- Nunca vi nada igual, exceto em esconderijos de traficantes, como o deMarcelo PQD - surpreendeu-se o delegado.
Dali, a polícia descobriu a ligação com o prédio vizinho (220), onde dezenas de quartos eram usados como salas cirúrgicas e leitos de repouso. Seis pessoas foram presas em flagrante, entre elas dois médicos. Ao todo, havia 15 pacientes na clínica. Cinco delas foram submetidas ao aborto, cinco aguardavam sua vez e o resto estava na recepção. Em uma terceira sala falsa, foi encontrado um triturador usado para mutilar os fetos extraídos, protegido por uma funcionária que passou mal e precisou ser socorrida pelos médicos.
O cerco começou há meses
A investigação que levou a interdição do Centro Médico Santo André (Cemesa) começou há quatro meses, a partir do inquérito 264/98, no qual o fotógrafo Flávio Heyd Pingarrilho foi detido por seguranças do lugar e mantido em cárcere privado por 20 minutos, no dia 13 de julho.
Como já havia casos e interdições anteriores denunciando a existência de uma clínica de abortos no local, o delegado Cyro Advíncula encaminhou à 17 Vara Criminal um requerimento de mandado judicial para invadir a clínica.
As suspeitas se concretizaram mais uma vez. Sob a fachada de clínica ginecológica, a Cemesa usava o prédio vizinho para fazer abortos. Por enquanto, só os quartos de dois dos cinco andares do lugar eram utilizados efetivamente. Os demais estavam para entrar em operação, expandindo os negócios de Evangelista Pereira, procurado pela polícia.
As consultas ginecológicas custam R$ 150. Os abortos saíam por R$ 850. Entre as pacientes, havia gente de Brasília e Belo Horizonte, comprovando a fama do lugar. Havia ainda um estacionamento com sala de espera para parentes.
Duas pacientes acusam médico
Duas das mulheres que se submeteram ao aborto confessaram o crime e reconheceram o médico Ivan Sartori como o responsável pelas cirurgias. Elas pagaram fiança de R$ 45, mas respondem por consentimento de aborto. Além de Ivan Sartori, foram presos em flagrante o médico Walter Cardoso Franco, as enfermeiras Isa Cristina Ribeiro Batista, Márcia Cristina Ferreira Prol Lopes e Simone da Silva Evaristo, e o segurança Jorge dos Santos.
A polícia procura agora pelo dono da clínica, Evangelista Pinto da Silva Pereira. Todos eles foram indiciados no artigo 126 (prática de aborto) e podem pegar de um a quatro anos de prisão, sem direito a fiança. Segundo o delegado titular da 10 DP, Cyro Advíncula, a Cemesa só não foi fechada definitivamente em ocasiões anteriores porque não havia provas suficientes.
- É dificílimo. Desta vez, tomamos uma série de cuidados. Temos o reconhecimento dos médicos, confissão e farto material. Parecia coisa de 007 - explicou.
Dentro da Cemesa, um circuito interno de TV alertava para a aproximação policial. Enquanto a polícia tentava invadir o local, os médicos escondiam as pacientes e os equipamentos cirúrgicos. Biscoitos e copos de mate largados no chão denunciavam a pressa em apagar todas as pistas. Dos cinco andares do prédio anexo, pelo menos dois funcionavam a pleno vapor.

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