Dias de Notícias

Notícias escritas e assinadas por mim, Marcelo Dias, a partir de 1998.

sábado, agosto 15, 1998

O ’apagão’ está de volta

Depois dos blecautes do verão, a falta de luz retorna e deixa 8 milhões às escuras

RIO (Extra) - O compromisso no Centro do Rio era muito importante e a pontualidade também. Afinal, se tratava de um possível emprego. E Marlene Américo Dias, de 35 anos, secretária executiva, desempregada, moradora de Laranjeiras, escolheu o transporte mais rápido: o metrô. Entrou no vagão às 10h20m.

Furiosa, Marlene caminhou por entre os trilhos de volta à estação de onde partira dois minutos atrás, a do Largo do Machado. Não perdoaria o Metrô pelo incidente e pelo atraso: a composição parou em plena galeria, as luzes piscaram, apagaram, as de emergência acenderam-se e ela e os outros passageiros tiveram que voltar à estação a pé, por entre trilhos e paredes, num túnel escuro. Ela subiu as escadas da estação correndo para tentar recuperar o tempo perdido. As escadas rolantes estavam paradas. O caos.

Marlene voltou à superfície e encontrou um mundo bem diferente daquele que deixara para trás há poucos minutos: os sinais apagados, guardas apitando, carros buzinando, ônibus acelerando forte e soltando fumaça, estridentes sirenes de carros de bombeiros em alguma parte e pessoas muitos nervosas. Era um apagão. O Metrô estava desculpado.

Curto-circuito em subestação

Durante praticamente uma hora, grande parte da Região Metropolitana do Rio, da Baixada, de alguns municípios de Angra dos Reis, Petrópolis e de algumas cidades do Sul de Minas - Varginha, Caxambu, Três Corações, Lavras e Alfenas - sofreram com o blecaute. No Centro e em 90% da Zona Sul do Rio, ele durou cerca de 20 minutos e tumultuou a vida de oito milhões de cariocas.

O diretor de operações das Furnais Centrais Elétrica, Celso Ferreira, explicou que houve um curto-circuito na subestação de Grajaú que teve que ser desligada, interrompendo o fornecimento de energia. Isso provocou um reação em cadeia, afetando outras subestações de Furnas.

Os aeroportos Internacional e Santos Dumont, entretanto, não interromperam suas atividades. O que aconteceu também com os Hospitais Souza Aguiar e Miguel Couto, que dispõem de geradores.

Cinco das 14 elevatórias da Companhia estadual de Águas e Esgoto (Cedae) também pararam por causa da falta de energia elétrica em todo o estado do Rio.

Mais de 800 sinais fora do ar

No caos em que mergulhou a cidade, mais de 800 sinais de trânsito dos 906 do Controle de Tráfego por Área deixaram de funcionar. Apenas parte da sinalização do Méier e de São Cristóvão não foi atingida. A Zona Sul, o Centro e a Tijuca foram os bairros mais prejudicados. Em Copacabana, os engarrafamentos infernizaram a vida do carioca.

Para o gerente do CTA, José Carlos Tigre, o blecaute só não causou maiores transtornos porque aconteceu fora dos horários de rush. Caso contrário, seria o caos. Dos mais de 2,7 milhões de veículos que circulam no estado, 1,52 milhão está no Rio.

A falta de luz prejudicou o trabalho no CTA.

- Ficamos sem as imagens dos cruzamentos da cidade e só soubemos dos engarrafamentos em Copacabana mais tarde. Houve vários nós e a situação ficou bastante confusa - admitiu Tigre.

Trens e metrô ficam parados

Quem viajava de trem na hora do blecaute teve que seguir o resto do percurso pelos trilhos, a pé. Todos os trens que operam nos cinco ramais da Flumitrens (Deodoro, Japeri, Leopoldina, Santa Cruz e Belford Roxo) ficaram parados das 10h30m às 11h. Diariamente, cerca de 350 mil pessoas passam pelas 95 estações do estado.

O Metrô Rio também foi atingido pelo blecaute. Todas as 25 estações ficaram paralisadas das 10h24m às 10h43m. A Linha 2 só voltou a operar duas horas depois. Segundo a Opportrans, consórcio que administra o Metrô, todos os passageiros receberam o bilhete de volta. Nas estações de Botafogo e Largo do Machado, as pessoas tiveram que descer das composições e seguir até as plataformas a pé.

Prejuízos também na Baixada

Comerciantes e moradores da Baixada ficaram irritados com o "apagão" de ontem. Em sua maioria, afirmam que não tiveram prejuízos materiais, mas garantiram que os piques de luz são constantes em determinadas áreas.

O comerciante José Carlos Fontoura, de 36 anos, que tem um bar em Nova Iguaçu, reclama que, em 30 minutos, perdeu dinheiro com a venda de refrigerantes e cervejas, já que a geladeira não pôde funcionar. Já o dentista Adolfo Frazão, de Caxias, teve que dispensar pacientes.

ONDE RECLAMAR

Alerj - A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro fica na Rua Dom Manuel s/n, no Centro.

Codecon Niterói- A Câmara de Vereadores de Niterói também tem uma Comissão de Defesa do Consumidor, que atende pelo telefone 714-4343.

Procon - Os telefones são 232-6222, 232-6269 e 252-0837

Agência Nacional de Energia Elétrica - Os telefones são (061) 312-5801 e (061) 312-3479.

Com Josiane Duarte e Nélson Brandão