Dias de Notícias

Notícias escritas e assinadas por mim, Marcelo Dias, a partir de 1998.

quinta-feira, junho 11, 1998

Ladrão leva até o alarme

Bando rouba mansão quando eram instalados equipamentos de segurança

RIO (Extra) A violência voltou a explodir na vizinhança do Palácio Guanabara. Ontem de manhã, três homens armados assaltaram a mansão do empresário Vladimir Magalhães Silveira, de 50 anos, na Rua Mundo Novo, em Laranjeiras. Silveira mora a cerca de 200 metros da sede do Governo estadual. A ação durou quase uma hora. Os bandidos chegaram no exato momento em que seria instalado um circuito interno de TV para a segurança da casa.

Durante todo o assalto, Silveira ficou amarrado num quarto com a mulher, Lígia Atalaia Silveira, um empregado da casa e ainda Oswaldo da Cruz Fernandes (que instalaria o equipamento de segurança).

Para o delegado Aloysio Netto, da 10ª DP (Botafogo), os ladrões sabiam exatamente o que roubar.

Tanto que agrediram Lígia a coronhadas para que apontasse o local onde estavam guardadas as jóias do casal. O grupo levou um Peugeot (recuperado em Copacabana), dois computadores, três televisões, uma máquina fotográfica digital, além de R$ 30 mil em jóias, mil dólares, 500 marcos alemães, R$ 3.600 em dinheiro, talões de cheque e cartões de crédito.

Os marginais chegaram às 9h30m num Vectra roubado na Barra da Tijuca, na hora em que Oswaldo Fernandes entrava pela garagem da mansão. Lá dentro, invadiram a casa como se soubessem o que encontrariam em cada um dos três andares do lugar. Depois, amarraram as vítimas num dos quartos. Com pistolas, eles ameaçaram matar todo mundo se a polícia fosse chamada.

Como se não bastassem os eletrodomésticos, o dinheiro e as jóias, os bandidos ainda levaram o Voyage azul (LJS-4396, do Rio) de Oswaldo, junto com todo o aparato de segurança que seria montado.

O governador entregou o Rio para os bandidos. É o caos

Vladimir Magalhães Silveira pensa agora em se mudar para Porto Alegre. Para ele, a cidade do Rio de Janeiro vive o caos de uma guerra civil

A miséria do país está gerando esta guerra civil em que vivemos no Rio. O governador entregou a cidade para os bandidos. E olha que moro a cerca de 200 metros do Palácio Guanabara. A área virou uma zona livre para a bandidagem.

Pretendo me mudar para Porto Alegre. Lá não existe essa violência do Rio. Fomos agredidos, amarrados e ameaçados de morte se chamássemos a polícia. Ainda bem que minha filha de 14 anos não estava em casa.

O Governo é o responsável. A insegurança me levou a instalar o sistema de segurança. É o caos.


Ex-empregados sob suspeita

De acordo com o delegado Aloysio Netto, o assalto à mansão de Vladimir Silveira foi praticado por alguém que conhecia o lugar, possivelmente um antigo empregado:

- Tem cobra mandada aí. Eles sabiam quais eram os bens guardados na casa e que o sujeito iria instalar um equipamento de segurança.

Para o delegado, outro indício de que o crime foi planejado está no Vectra roubado na Barra da Tijuca, usado só para levar os ladrões a Laranjeiras.

Mamória

Assalto e morte batem à porta de Marcello

A proximidade com o Palácio Guanabara não inibe a presença de criminosos em Laranjeiras. Há menos de dois meses, um homem armado com uma pistola roubou, sem disparar um único tiro, R$ 60 mil da agência do Banerj, que funciona dentro da sede do Governo do Estado.

Em junho de 1995, o prefeito de Belford Roxo, Jorge Júlio Costa dos Santos, o Joca, foi morto com 11 tiros, dentro de seu carro, no mesmo local em que a estudante Ana Carolina da Costa Lino foi executada há cerca de dois meses. Joca tinha uma audiência marcada com o governador Marcello Alencar.

Um prejuízo de R$ 40 mil

Esta não foi a primeira vez que Vladimir Magalhães Silveira foi assaltado. Há três anos, sua mansão foi furtada, mas, segundo o empresário, não foi levado nenhum objeto de valor.

Morando na Rua Mundo Novo há 11 anos, Vladimir Silveira decidiu proteger a casa devido à insegurança que sentia na cidade. Mas, ironicamente, os três ladrões não só chegaram na casa junto com o técnico Oswaldo Fernandes, que instalaria o equipamento de segurança - composto por um sistema de alarme e um circuito interno de televisão - como também fugiram levando toda a parafernália eletrônica:

Apesar do prejuízo, que ultrapassa R$ 40 mil, o que mais revolta Silveira é o fato de não ter segurança nem sendo vizinho do Palácio Guanabara.

- O roubo material não me aborrece tanto. O que me revolta é o abandono do Governo, é essa falta de segurança com que convivemos.

'Cidade vive guerra civil'

Assim como o empresário Vladimir Silveira, a presidente da Associação de Moradores de Laranjeiras, Tereza Amayo, também acha que a cidade vive uma guerra civil:

- Estamos órfãos. Trata-se de uma guerrilha urbana e se nos trancamos em casa, os bandidos invadem armados.

Tereza Amayo lembra que, devido aos baixos salários, os 170 homens da 1ª CIPM, encarregados da segurança do Palácio Guanabara, não bastam para o bairro.