Morto na porta de casa
Alcir Explosão pode ter sido executado, pelo tráfico, segundo a polícia
RIO (Extra) Apesar de os moradores da Mangueira continuarem em silêncio, a Polícia Civil já sabe que o diretor de bateria Alcir Toledo de Oliveira, o Alcir Explosão, foi assassinado na noite de domingo no Buraco Quente, onde morava, por traficantes do morro. A polícia está investigando o envolvimento de Alcir com o traficante Francisco de Paula Testa, o Tuchinha, preso em Bangu III. O presidiário teria dado a ordem para a execução do sambista.
Segundo a polícia, Alcir queria romper seus laços com o tráfico de drogas depois que assumiu o comando da bateria verde-e-rosa. E, por isso, teria pago caro. A polícia está investigando a versão de que Tuchinha temia que Alcir Explosão virasse um informante e prejudicasse seus negócios na favela.
Há quatro anos, Explosão teria sido investigado como o responsável pela lavagem de dinheiro do tráfico na Mangueira. Mas, na época, nada ficou provado contra o sambista.
De acordo com o delegado Celso Miranda, da 25ª DP (Engenho Novo), o depoimento da mãe do sambista, Mauricéia Toledo de Oliveira, esclarecerá o crime. Entretanto, ele estranhou a reação de Katia Araújo, mulher de Explosão.
- A Kátia estava até rindo enquanto prestava depoimento. Agora, vamos ouvir a mãe dele e os amigos. No morro andam dizendo que Alcir tinha ligação com os traficantes. Falta confirmar. Mas ninguém vai admitir que o sambista foi morto na favela - explicou Celso Miranda, prevendo dificuldades na investigação.
O diretor de bateria da Mangueira foi enterrado ontem, ao meio-dia, no cemitério do Caju.
Adeus ao som de um surdo
Há tempos que o samba da Mangueira não se calava. Ontem, durante o enterro de Alcir Explosão, no cemitério do Caju, a marcação do surdo foi o único instrumento que representou o luto da verde-e-rosa.
Quando o caixão foi colocado na gaveta, cerca de 300 pessoas cantaram o samba-enredo que garantiu o primeiro lugar no carnaval deste ano. A mãe do ritmista, Mauricéia Toledo de Oliveira, teve que ser retirada do lado do caixão, enquanto amigos e sua mulher, Katia Maria Araújo, o ornamentavam com flores.
O enterro, realizado às 12h, foi acompanhado por integrantes da bateria da Mangueira, que chegaram ao cemitério num ônibus fretado pela escola. Em prantos, a mãe de Explosão falava com o filho:
- Você confiava em todo mundo menos na mamãe, meu filho! Por isso é que você está aí. Tenho certeza que na hora você se lembrou disso! - gritava em meio às lágrimas.
A bateria estava vestida com a camisa do Mancha, time de pelada do sambista. O cantor Lobão, membro também da bateria, estava emocionado com a morte do amigo.
- Há dez anos que eu o conhecia. Era um grande amigo.
Silêncio e medo na Mangueira
Os moradores da Mangueira estão em silêncio. Não pela morte do diretor de bateria da verde-e-rosa, Alcir Explosão, mas pelo medo do tráfico. Nem mesmo a diretoria da escola se pronunciou sobre o assassinato do homem que levou sua bateria à nota máxima neste Carnaval.
Ontem, moradores e diretores de samba continuavam demonstrando surpresa com o crime. No dia anterior, mesmo antes de o corpo de Explosão ter sido encontrado, a notícia da morte já corria pelo morro e os sambistas se comportavam como se não soubessem de nada.
- Só falamos de carnaval. O que acontece lá fora não nos interessa - disse o diretor administrativo da Mangueira, Reginaldo Carlos, mostrando-se irritado com a insistência da imprensa.
Explosão foi responsável pelos exaustivos ensaios da bateria nota 10, que tirou 9,5 no carnaval do ano passado. Vale lembrar que o item bateria é o primeiro critério de desempate da Liga das Escolas de Samba. Daí a importância do diretor na conquista deste Carnaval.
Amedrontados, os moradores da Mangueira negam que saibam de algo sobre o crime, mas há quem confirme a linha de investigação seguida pela polícia.
- Ouvi numa conversa que o Alcir foi morto aqui mesmo. Tinha gente que não gostava dele - contou um senhor que, com medo de represálias, não quis se identificar.
Procurada pelo EXTRA, Katia Araújo, mulher do sambista, ainda estava assustada com a morte do marido. Apesar do medo, ela permanece no morro e não quis confirmar o suposto envolvimento de Explosão com traficantes.
Memória
Diretor sabia que estava marcado para morrer
Regente da bateria da Mangueira há seis anos, Alcir Explosão temia pela própria vida. Para a Polícia, o traficante Francisco de Paula Testa, o Tuchinha, acreditava que ele se transformaria em um alcagüete.
Por isso, a ordem para que Alcir Explosão fosse morto teria partido do presídio de segurança máxima Bangu III, onde Tuchinha está preso. No domingo, Explosão saiu de casa por volta do meio-dia para jogar futebol na Barra.
Quase 24 horas depois, Katia Maria Araújo, mulher do ritmista, recebeu um telefonema anônimo dizendo que o corpo do marido estava dentro do porta-malas de um Kadett cinza, na Rua Alzira Valderato, no Sampaio.
A notícia da morte, no entanto, chegou antes da descoberta do corpo. Com ela, foi decretado também o silêncio no Morro da Mangueira, atingindo moradores e sambistas.
com Fábio Gusmão
RIO (Extra) Apesar de os moradores da Mangueira continuarem em silêncio, a Polícia Civil já sabe que o diretor de bateria Alcir Toledo de Oliveira, o Alcir Explosão, foi assassinado na noite de domingo no Buraco Quente, onde morava, por traficantes do morro. A polícia está investigando o envolvimento de Alcir com o traficante Francisco de Paula Testa, o Tuchinha, preso em Bangu III. O presidiário teria dado a ordem para a execução do sambista.
Segundo a polícia, Alcir queria romper seus laços com o tráfico de drogas depois que assumiu o comando da bateria verde-e-rosa. E, por isso, teria pago caro. A polícia está investigando a versão de que Tuchinha temia que Alcir Explosão virasse um informante e prejudicasse seus negócios na favela.
Há quatro anos, Explosão teria sido investigado como o responsável pela lavagem de dinheiro do tráfico na Mangueira. Mas, na época, nada ficou provado contra o sambista.
De acordo com o delegado Celso Miranda, da 25ª DP (Engenho Novo), o depoimento da mãe do sambista, Mauricéia Toledo de Oliveira, esclarecerá o crime. Entretanto, ele estranhou a reação de Katia Araújo, mulher de Explosão.
- A Kátia estava até rindo enquanto prestava depoimento. Agora, vamos ouvir a mãe dele e os amigos. No morro andam dizendo que Alcir tinha ligação com os traficantes. Falta confirmar. Mas ninguém vai admitir que o sambista foi morto na favela - explicou Celso Miranda, prevendo dificuldades na investigação.
O diretor de bateria da Mangueira foi enterrado ontem, ao meio-dia, no cemitério do Caju.
Adeus ao som de um surdo
Há tempos que o samba da Mangueira não se calava. Ontem, durante o enterro de Alcir Explosão, no cemitério do Caju, a marcação do surdo foi o único instrumento que representou o luto da verde-e-rosa.
Quando o caixão foi colocado na gaveta, cerca de 300 pessoas cantaram o samba-enredo que garantiu o primeiro lugar no carnaval deste ano. A mãe do ritmista, Mauricéia Toledo de Oliveira, teve que ser retirada do lado do caixão, enquanto amigos e sua mulher, Katia Maria Araújo, o ornamentavam com flores.
O enterro, realizado às 12h, foi acompanhado por integrantes da bateria da Mangueira, que chegaram ao cemitério num ônibus fretado pela escola. Em prantos, a mãe de Explosão falava com o filho:
- Você confiava em todo mundo menos na mamãe, meu filho! Por isso é que você está aí. Tenho certeza que na hora você se lembrou disso! - gritava em meio às lágrimas.
A bateria estava vestida com a camisa do Mancha, time de pelada do sambista. O cantor Lobão, membro também da bateria, estava emocionado com a morte do amigo.
- Há dez anos que eu o conhecia. Era um grande amigo.
Silêncio e medo na Mangueira
Os moradores da Mangueira estão em silêncio. Não pela morte do diretor de bateria da verde-e-rosa, Alcir Explosão, mas pelo medo do tráfico. Nem mesmo a diretoria da escola se pronunciou sobre o assassinato do homem que levou sua bateria à nota máxima neste Carnaval.
Ontem, moradores e diretores de samba continuavam demonstrando surpresa com o crime. No dia anterior, mesmo antes de o corpo de Explosão ter sido encontrado, a notícia da morte já corria pelo morro e os sambistas se comportavam como se não soubessem de nada.
- Só falamos de carnaval. O que acontece lá fora não nos interessa - disse o diretor administrativo da Mangueira, Reginaldo Carlos, mostrando-se irritado com a insistência da imprensa.
Explosão foi responsável pelos exaustivos ensaios da bateria nota 10, que tirou 9,5 no carnaval do ano passado. Vale lembrar que o item bateria é o primeiro critério de desempate da Liga das Escolas de Samba. Daí a importância do diretor na conquista deste Carnaval.
Amedrontados, os moradores da Mangueira negam que saibam de algo sobre o crime, mas há quem confirme a linha de investigação seguida pela polícia.
- Ouvi numa conversa que o Alcir foi morto aqui mesmo. Tinha gente que não gostava dele - contou um senhor que, com medo de represálias, não quis se identificar.
Procurada pelo EXTRA, Katia Araújo, mulher do sambista, ainda estava assustada com a morte do marido. Apesar do medo, ela permanece no morro e não quis confirmar o suposto envolvimento de Explosão com traficantes.
Memória
Diretor sabia que estava marcado para morrer
Regente da bateria da Mangueira há seis anos, Alcir Explosão temia pela própria vida. Para a Polícia, o traficante Francisco de Paula Testa, o Tuchinha, acreditava que ele se transformaria em um alcagüete.
Por isso, a ordem para que Alcir Explosão fosse morto teria partido do presídio de segurança máxima Bangu III, onde Tuchinha está preso. No domingo, Explosão saiu de casa por volta do meio-dia para jogar futebol na Barra.
Quase 24 horas depois, Katia Maria Araújo, mulher do ritmista, recebeu um telefonema anônimo dizendo que o corpo do marido estava dentro do porta-malas de um Kadett cinza, na Rua Alzira Valderato, no Sampaio.
A notícia da morte, no entanto, chegou antes da descoberta do corpo. Com ela, foi decretado também o silêncio no Morro da Mangueira, atingindo moradores e sambistas.
com Fábio Gusmão

1 Comments:
Texto Perfeito. Meus Parabéns! Grande perda.
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