Unidos pelo pó há 20 anos
PF sabe que milionário Germano tinha negócios com a traficante Inara desde 78
RIO (Extra) - A Polícia Federal tem mais uma relação do empresário José Germano Neto para investigar. Desde 1978, ele mantém negócios com a traficante internacional Inara Medeiros de Freitas, de 49 anos. Ex-campeã sul-americana de tênis, Inara foi presa em abril deste ano no Centro do Rio. Além de tráfico de drogas, Inara ainda será julgada, no mês que vem, por dois homicídios em Queimados, na Baixada Fluminense.
A Polícia Federal ainda terá mais um elemento para acrescentar às investigações: Inara de Freitas foi presa pelo detetive Victor Alexandre Albano, que é amigo do empresário Germano. O detetive também está preso desde o dia 19, depois das denúncias do marítimo Carlos Antônio Ruff, um traficante arrependido que trocou informações sigilosas sobre o tráfico internacional em troca de proteção, mas foi morto no dia 31 de agosto.
Quando Inara foi presa no Rio, Victor Alexandre Albano estava lotado na Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Na ocasião, a delegada Márcia Julião, titular da DPCA, disse que a traficante estava arregimentando menores para serem usados como "mulas" (transporte de drogas para a Europa).
Antes de ser presa, Inara vivia foragida em Zurique, na Suíça, onde era responsável por uma rede de distribuição de entorpecente. A droga, segundo a polícia, era enviada por Germano. No início do ano, ele esteve na Suíça, mas Inara já viera para o Brasil, graças a um passaporte falso.
Segundo a polícia, Germano e Inara tiveram um desentendimento, já que a mulher queria montar uma rede para exportar cocaína, ocupando o espaço do empresário. O motivo da prisão de Inara pode ter sido um pedido do próprio Germano ao detetive Victor Alexandre, homem de confiança do empresário. A prisão de Inara acabaria com um pesadelo que o acompanhava desde 78. Na primeira vez que foi preso, pela Divisão de Repressão a Entorpecentes, Germano demonstrou temer Inara.
Juntos também num processo de receptação
O primeiro contato comercial entre o empresário José Germano Neto e a ex-campeã sul-americana de tênis Inara Medeiros de Freitas aconteceu em 1978. Foi nesta época que os dois começaram a responder juntos ao flagrante de receptação de carro roubado.
O processo ainda está tramitando na Justiça, mas vem desde setembro de 78. O flagrante 422/78 da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), onde os dois são acusados pelo artigo 180 (receptação).
A versão de José Germano para o caso foi que Inara de Freitas comprou material de construção em sua loja, a Germano's, na Estrada do Pré, em Campo Grande. Inara de Freitas, então, teria pago o empresário com um carro. Entretanto, o carro dado como forma de pagamento era roubado. A Justiça não informou o resultado da ação penal.
Desde então, Germano começou a colecionar processos na Justiça, muitos deles por causa de veículos roubados. Só no ano passado, é que José Germano comprou a Technick, a maior revendedora BMW no Rio, nm negócio de US$ 3 milhões.
Os negócios de Germano com Inara continuaram, só que nunca mais foram citados em um mesmo processo. Para a Polícia Federal, Inara passou a ser a principal distribuidora da droga exportada por José Germano, desde que ela fugiu para a Suíça, em 1984.
Por falar seis idiomas, Inara era um ótimo contato de Germano na Europa, quando ele começou a aumentar a quantidade de cocaína traficada para o exterior. Segundo a polícia, em 1984, foi a primeira época em que Germano Neto começou a enviar cocaína para a Europa. Ainda de acordo com a polícia, em 1992, Germano já mandava cerca de cem quilos de cocaína/mês.
Ex-tenista no banco dos réus
Presa na carceragem da Polícia Federal desde 14 de abril, Inara de Freitas ainda será julgada pela Justiça do estado. No próximo dia 13 de outubro, ela senta no banco dos réus da 4 Vara Criminal de Nova Iguaçu, pela morte de dois comerciantes em Queimados, em fevereiro de 1981.
Ela foi acusada de ser a mandante dos assassinatos de Rahmum Simão Gerchon e de Manoel Francisco, já que ela devia o equivalente a R$ 200 mil a Rahnum. Inara chegou a ficar presa no presídio Talavera Bruce, em Bangu, mas fugiu em 1984, para a Suíça, onde vivia desde então. Sempre que vinha ao Brasil, ela usava documentos falsos.
Irmão de Ruff deporá amanhã
Enquanto as denúncias sobre tráfico de drogas feitas pelo marítimo Carlos Antônio Ruff estão sendo investigadas pela Polícia Federal, os detetives da 21 DP (Bonsucesso) tentam descobrir o autor dos disparos contra o traficante arrependido. Na segunda-feira, o irmão do marítimo vai depor na delegacia. O delegado Jorge Campos também chamou os funcionários da empresa que funciona na Rua João Torquato 23, em frente ao telefone público onde Ruff foi assassinado a tiros no dia 14 de setembro.
Desde então, uma única pessoa foi ouvida: a filha mais velha de Ruff, de 18 anos. Três dias depois de ouvirem-na, os policiais voltaram à casa do marítimo, que estava abandonada. O delegado solicitou à PF uma cópia dos depoimentos que a mulher de Ruff prestou no esconderijo, onde está sendo mantida em segurança. Este inquérito, no entanto, está em segredo de Justiça.
Ele na cadeia, ela no paraíso
Da madeireira a imóvel que tem até campo de golfe
Apesar de seu marido, o empresário-traficante José Germano Neto, estar preso desde o início do mês numa cela em Nova York, a leiloeira-pública Zalfa Nassar ainda desfruta das mordomias do condomínio mais luxuoso da Barra, o Barra Golden Green.
Na ciclovia particular de um quilômetro, que corta um campo de golfe, ela pode cruzar com vizinhos ilustres, como o cantor Jorge Ben Jor e o ex-jogador Ricardo Gomes, entre outros. Os 181 mil metros quadrados do condomínio - equivalente a 18 quadras do Leblon - tem projeto paisagístico de Burle Marx.
Uma das coberturas de frente para a praia é do atacante Romário, mas nunca foi ocupada. O artilheiro e sua ex-mulher Mônica Santoro brigam na Justiça pelo imóvel de 800 metros quadrados e taxa de condomínio de R$ 3.500 por mês.
O apartamento de Germano e Zalfa é menor, tem cerca de 360 metros quadrados e quatro suítes. Mesmo assim, ele aparece na declaração de bens de Germano, em poder da PF, com metade do seu valor real. Segundo o documento, todo o patrimônio estaria avaliado em R$ 800 mil. O apartamento, sozinho, vale R$ 1,2 milhão. A PF também quer saber porque a Madeireira Germano's, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, só foi passada para o nome do empresário em 97. Antes, estava em nome do irmão e da mãe de Germano.
De Cabral ao tenente Medrado
O marítimo Carlos Antônio Ruff não imaginava o tamanho e a organização da rede de tráfico que denunciou. O traficante Germano Neto havia assumido o lugar de Inara, presa no Centro do Rio, em abril, por agentes da DPCA, entre eles Victor Alexandre Albano. Inara estava com o advogado Edson Javoviski, que lhe fornecia vários documentos falsos há, pelo menos, 14 anos. Germano Neto usava sua madeireira para trazer cocaína da Colômbia e da Bolívia escondida em toras, fazendo uma ponte do Rio para a Europa.
No início dos anos 80, o tráfico de drogas na cidade era controlado por Tuninho Turco, morto durante a "Operação Mosaico", em 1988. Na época, Inara e o tenente reformado da PM Luiz Paulo Ferreira Medrado faziam a ligação entre o Cartel de Cáli e os morros do Rio. Aqui, a cocaína colombiana era processada e enviada para os grandes centros de consumo, como Estados Unidos, França, Suíça e Itália. Em 1984, ela fugiu do presídio Talavera Bruce, onde cumpria pena de 36 anos por duplo homicídio, e foi para a Suíça.
Medrado, então, herdou o comando da organização no Brasil enquanto Inara era a responsável pela distribuição da cocaína na Europa. Em 89, Inara foi presa e Medrado fugiu para assumir o posto na Suíça, deixando em seu lugar o advogado Isaías Pereira Cabral, preso no início do ano no Aeroporto Internacional com dois traficantes: Temístocles Pereira Torres (membro da antiga Conexão PanAm, desfeita em 83) e o italiano Salvatore Bataglia, que distribuía a droga na Itália.
Cabral foi descoberto pela PF em 96, quando se apresentou como advogado de Henry Pyneda, do Cartel de Cáli, preso no Aeroporto Internacional. Com Cabral no xadrez, Inara retornou ao país em junho de 97 para assumir os negócios.
De Denise Ribeiro
Com Marcelo Dias e Victor Javoski
RIO (Extra) - A Polícia Federal tem mais uma relação do empresário José Germano Neto para investigar. Desde 1978, ele mantém negócios com a traficante internacional Inara Medeiros de Freitas, de 49 anos. Ex-campeã sul-americana de tênis, Inara foi presa em abril deste ano no Centro do Rio. Além de tráfico de drogas, Inara ainda será julgada, no mês que vem, por dois homicídios em Queimados, na Baixada Fluminense.
A Polícia Federal ainda terá mais um elemento para acrescentar às investigações: Inara de Freitas foi presa pelo detetive Victor Alexandre Albano, que é amigo do empresário Germano. O detetive também está preso desde o dia 19, depois das denúncias do marítimo Carlos Antônio Ruff, um traficante arrependido que trocou informações sigilosas sobre o tráfico internacional em troca de proteção, mas foi morto no dia 31 de agosto.
Quando Inara foi presa no Rio, Victor Alexandre Albano estava lotado na Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Na ocasião, a delegada Márcia Julião, titular da DPCA, disse que a traficante estava arregimentando menores para serem usados como "mulas" (transporte de drogas para a Europa).
Antes de ser presa, Inara vivia foragida em Zurique, na Suíça, onde era responsável por uma rede de distribuição de entorpecente. A droga, segundo a polícia, era enviada por Germano. No início do ano, ele esteve na Suíça, mas Inara já viera para o Brasil, graças a um passaporte falso.
Segundo a polícia, Germano e Inara tiveram um desentendimento, já que a mulher queria montar uma rede para exportar cocaína, ocupando o espaço do empresário. O motivo da prisão de Inara pode ter sido um pedido do próprio Germano ao detetive Victor Alexandre, homem de confiança do empresário. A prisão de Inara acabaria com um pesadelo que o acompanhava desde 78. Na primeira vez que foi preso, pela Divisão de Repressão a Entorpecentes, Germano demonstrou temer Inara.
Juntos também num processo de receptação
O primeiro contato comercial entre o empresário José Germano Neto e a ex-campeã sul-americana de tênis Inara Medeiros de Freitas aconteceu em 1978. Foi nesta época que os dois começaram a responder juntos ao flagrante de receptação de carro roubado.
O processo ainda está tramitando na Justiça, mas vem desde setembro de 78. O flagrante 422/78 da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), onde os dois são acusados pelo artigo 180 (receptação).
A versão de José Germano para o caso foi que Inara de Freitas comprou material de construção em sua loja, a Germano's, na Estrada do Pré, em Campo Grande. Inara de Freitas, então, teria pago o empresário com um carro. Entretanto, o carro dado como forma de pagamento era roubado. A Justiça não informou o resultado da ação penal.
Desde então, Germano começou a colecionar processos na Justiça, muitos deles por causa de veículos roubados. Só no ano passado, é que José Germano comprou a Technick, a maior revendedora BMW no Rio, nm negócio de US$ 3 milhões.
Os negócios de Germano com Inara continuaram, só que nunca mais foram citados em um mesmo processo. Para a Polícia Federal, Inara passou a ser a principal distribuidora da droga exportada por José Germano, desde que ela fugiu para a Suíça, em 1984.
Por falar seis idiomas, Inara era um ótimo contato de Germano na Europa, quando ele começou a aumentar a quantidade de cocaína traficada para o exterior. Segundo a polícia, em 1984, foi a primeira época em que Germano Neto começou a enviar cocaína para a Europa. Ainda de acordo com a polícia, em 1992, Germano já mandava cerca de cem quilos de cocaína/mês.
Ex-tenista no banco dos réus
Presa na carceragem da Polícia Federal desde 14 de abril, Inara de Freitas ainda será julgada pela Justiça do estado. No próximo dia 13 de outubro, ela senta no banco dos réus da 4 Vara Criminal de Nova Iguaçu, pela morte de dois comerciantes em Queimados, em fevereiro de 1981.
Ela foi acusada de ser a mandante dos assassinatos de Rahmum Simão Gerchon e de Manoel Francisco, já que ela devia o equivalente a R$ 200 mil a Rahnum. Inara chegou a ficar presa no presídio Talavera Bruce, em Bangu, mas fugiu em 1984, para a Suíça, onde vivia desde então. Sempre que vinha ao Brasil, ela usava documentos falsos.
Irmão de Ruff deporá amanhã
Enquanto as denúncias sobre tráfico de drogas feitas pelo marítimo Carlos Antônio Ruff estão sendo investigadas pela Polícia Federal, os detetives da 21 DP (Bonsucesso) tentam descobrir o autor dos disparos contra o traficante arrependido. Na segunda-feira, o irmão do marítimo vai depor na delegacia. O delegado Jorge Campos também chamou os funcionários da empresa que funciona na Rua João Torquato 23, em frente ao telefone público onde Ruff foi assassinado a tiros no dia 14 de setembro.
Desde então, uma única pessoa foi ouvida: a filha mais velha de Ruff, de 18 anos. Três dias depois de ouvirem-na, os policiais voltaram à casa do marítimo, que estava abandonada. O delegado solicitou à PF uma cópia dos depoimentos que a mulher de Ruff prestou no esconderijo, onde está sendo mantida em segurança. Este inquérito, no entanto, está em segredo de Justiça.
Ele na cadeia, ela no paraíso
Da madeireira a imóvel que tem até campo de golfe
Apesar de seu marido, o empresário-traficante José Germano Neto, estar preso desde o início do mês numa cela em Nova York, a leiloeira-pública Zalfa Nassar ainda desfruta das mordomias do condomínio mais luxuoso da Barra, o Barra Golden Green.
Na ciclovia particular de um quilômetro, que corta um campo de golfe, ela pode cruzar com vizinhos ilustres, como o cantor Jorge Ben Jor e o ex-jogador Ricardo Gomes, entre outros. Os 181 mil metros quadrados do condomínio - equivalente a 18 quadras do Leblon - tem projeto paisagístico de Burle Marx.
Uma das coberturas de frente para a praia é do atacante Romário, mas nunca foi ocupada. O artilheiro e sua ex-mulher Mônica Santoro brigam na Justiça pelo imóvel de 800 metros quadrados e taxa de condomínio de R$ 3.500 por mês.
O apartamento de Germano e Zalfa é menor, tem cerca de 360 metros quadrados e quatro suítes. Mesmo assim, ele aparece na declaração de bens de Germano, em poder da PF, com metade do seu valor real. Segundo o documento, todo o patrimônio estaria avaliado em R$ 800 mil. O apartamento, sozinho, vale R$ 1,2 milhão. A PF também quer saber porque a Madeireira Germano's, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, só foi passada para o nome do empresário em 97. Antes, estava em nome do irmão e da mãe de Germano.
De Cabral ao tenente Medrado
O marítimo Carlos Antônio Ruff não imaginava o tamanho e a organização da rede de tráfico que denunciou. O traficante Germano Neto havia assumido o lugar de Inara, presa no Centro do Rio, em abril, por agentes da DPCA, entre eles Victor Alexandre Albano. Inara estava com o advogado Edson Javoviski, que lhe fornecia vários documentos falsos há, pelo menos, 14 anos. Germano Neto usava sua madeireira para trazer cocaína da Colômbia e da Bolívia escondida em toras, fazendo uma ponte do Rio para a Europa.
No início dos anos 80, o tráfico de drogas na cidade era controlado por Tuninho Turco, morto durante a "Operação Mosaico", em 1988. Na época, Inara e o tenente reformado da PM Luiz Paulo Ferreira Medrado faziam a ligação entre o Cartel de Cáli e os morros do Rio. Aqui, a cocaína colombiana era processada e enviada para os grandes centros de consumo, como Estados Unidos, França, Suíça e Itália. Em 1984, ela fugiu do presídio Talavera Bruce, onde cumpria pena de 36 anos por duplo homicídio, e foi para a Suíça.
Medrado, então, herdou o comando da organização no Brasil enquanto Inara era a responsável pela distribuição da cocaína na Europa. Em 89, Inara foi presa e Medrado fugiu para assumir o posto na Suíça, deixando em seu lugar o advogado Isaías Pereira Cabral, preso no início do ano no Aeroporto Internacional com dois traficantes: Temístocles Pereira Torres (membro da antiga Conexão PanAm, desfeita em 83) e o italiano Salvatore Bataglia, que distribuía a droga na Itália.
Cabral foi descoberto pela PF em 96, quando se apresentou como advogado de Henry Pyneda, do Cartel de Cáli, preso no Aeroporto Internacional. Com Cabral no xadrez, Inara retornou ao país em junho de 97 para assumir os negócios.
De Denise Ribeiro
Com Marcelo Dias e Victor Javoski

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