Presos se rebelam na Barra
Detentos serram grades e mantêm detetive como refém por quatro horas
RIO (Extra) - Quatro horas de gritos, grades de ferro batendo, ameaças. Uma rebelião de 97 presos contra a superlotação da 16 DP (Barra da Tijuca) - que tem capacidade para apenas 50 detentos - mobilizou ontem a polícia. A principal exigência foi atendida: à noite, 25 presos foram transferidos e outros foram levados provisoriamente para a 10 DP (Botafogo) até que a carceragem, parcialmente destruída, seja reformada.
Eram 9h30m quando o detetive Fábio Guimarães Silva, de 33 anos, ouviu um forte barulho de grades batendo. Mesmo prestes a sair do trabalho, foi ver o que acontecia e acabou rendido. Os presos estavam armados com barras de ferro que serraram de três das cinco celas.
Os rebelados fizeram várias exigências, como telefones celulares, presença da imprensa, do governador e de um representante da Comissão dos Direitos Humanos da OAB. É na 16 DP que estão presos o filho do cantor Wando, Wanderley Alves dos Reis Júnior, de 22 anos, e o irmão do jogador Edmundo, Luiz Carlos Alves de Souza, de 24.
Policiais da 7 CIPM (Recreio), da Coordenadoria de Inteligência e Apoio Policial (Cinap) e do Esquadrão Antibombas cercaram o prédio durante todo o tempo. Equipados com bombas, coletes à prova de balas e capacetes, três agentes chegaram a entrar na carceragem. Mas às 13h30m, o refém, chorando, foi finalmente liberado.
ENTREVISTA
Luiz Eduardo Soares - subsecretário de Segurança Pública
'A resposta para isso é o fim do xadrez'
Como acabar com esses motins? A 16 DP está no programa Delegacia Legal, que prevê a eliminação das carceragens em distritos policiais?
Ela já está no nosso programa e a resposta para isso é o fim do xadrez nas delegacias. Não tem jeito. A gente agora vai solucionar esse problema, depois outro foco aparece ali porque as condições são precárias. Isso, inclusive, é inconstitucional e só se resolve de forma definitiva acabando com essas carceragens. Para isso, estamos construindo simultaneamente as delegacias legais e casas de custódia para fazer o deslocamento de presos.
A primeira casa de custódia fica pronta quando?
A primeira, no presídio Esmeraldino Bandeira, em Bangu, está quase pronta, devendo ser entregue em uns 15 dias, com capacidade para 600 homens.
O cronograma do Delegacia Legal, de reformular todas as unidades do Grande Rio até o ano que vem, está mantido?
Sim. O processo licitatório das próximas 18 unidades deve durar um mês. Haverá 60 dias para as obras, que devem estar prontas em três meses.
Violência e comida azeda
"Delegacia não é lugar para manter presos". Esta foi a frase mais repetida pelos delegados que participaram da negociação com os presos. Na carceragem onde caberiam 50 pessoas, 97 homens se amontoavam, quatro deles condenados. Fato que, na opinião do delegado titular da 16 DP, Napoleão Salgado, causa situações de estresse como a de ontem.
- Todos querem fugir - disse Napoleão, apoiado pelo delegado da Metropol II (Leblon), Rogério Marchesine, nas negociações.
Além da transferência de presos, que foi atendida, os presos reclamaram de comida azeda, agressões por parte dos policiais e falta de atendimento médico. Problemas negados pelo delegado.
- Cuidamos destas questões e sabemos que elas são a chama para explodir esse barril de pólvora - defendeu-se.
Carcereiro tem horas de terror
Às lágrimas, muito nervoso e traumatizado, o detetive Fábio Guimarães Silva, de 33 anos, saiu da carceragem depois de quatro horas nas mãos de quase cem homens. Há nove anos na polícia, três deles na Barra, Fábio estava acostumado a dar plantões como carcereiro e nunca tinha sofrido este tipo de violência.
Ao contrário, Fábio é respeitado pelos presos, o que pode ter salvo sua vida. Apesar de ficar abatido e ter a camisa rasgada, ele não foi agredido em nenhum momento. O detetive contou a colegas que um grupo de presos pensou em amarrá-lo, mas os mais antigos não deixaram. Uma demonstração, inclusive, da falta de liderança entre os rebelados.
O fato do detetive ter cumprido as normas de segurança também evitou uma tragédia. Ele tirou a arma e o celular antes de entrar na carceragem, rotina nem sempre seguida entre os carcereiros.
Parentes de famosos na cela
Horas antes do retorno do atacante Edmundo ao Vasco, o irmão do Animal, Luiz Carlos Alves de Souza, de 24 anos, voltou a ser notícia durante a rebelião na 16 DP. Luiz Carlos foi parar atrás das grades depois de roubar a casa do próprio Edmundo, na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, na madrugada de 23 de outubro do ano passado, quando levava um aparelho de som e uma caixa de isopor. Ele acabou sendo autuado por roubo a mão armada (artigo 157).
Já Wanderley Alves dos Reis Júnior, de 22, filho do cantor Wando, também está preso na 16 DP. Ele foi detido na madrugada de 15 de abril deste ano por tentativa de homicídio (artigo 121) ao atirar contra os seguranças Luís Cláudio da Silva e Marcos Fontes. Motivo da prisão: uma briga por causa de um pão de queijo em uma loja na Avenida das Américas.
Os dois se ofereceram - e foram usados - para serem reféns no lugar do detetive Fábio Silva.
Rebeliões são comuns em todo o estado
Motins provocados por superlotação como o da 16 DP são comuns em todo o Rio de Janeiro e, enquanto o programa Delegacia Legal (que prevê o fim das carceragens nos distritos policiais) não estiver concluído, continuarão acontecendo, como frisa o subsecretário de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares.
- A gente soluciona esse problema agora e depois outro foco aparece ali porque as condições são precárias - diz.
A última rebelião aconteceu no último dia 12, quando os 240 detentos da 134 DP, no Centro de Campos, incendiaram colchões e destruíram parte das grades das celas do xadrez. O lugar só comportava 60 homens.
Na noite de 18 de dezembro do ano passado, um motim de 130 detentos na 20 DP (Vila Isabel) resultou na morte do carcereiro Edson de Moura, assassinado com um tiro na cabeça.
No noite de 25 de janeiro deste ano, a 35 DP (Campo Grande) enfrentou uma situação semelhante à da 16 DP, quando os detentos tomaram como refém o carcereiro Wagner Gonçalves Faria. Na madrugada anterior, 31 homens fugiram da 71 DP (Itaboraí). Havia 80 presos, 64 acima da capacidade máxima.
Com Cristiane de Cássia
RIO (Extra) - Quatro horas de gritos, grades de ferro batendo, ameaças. Uma rebelião de 97 presos contra a superlotação da 16 DP (Barra da Tijuca) - que tem capacidade para apenas 50 detentos - mobilizou ontem a polícia. A principal exigência foi atendida: à noite, 25 presos foram transferidos e outros foram levados provisoriamente para a 10 DP (Botafogo) até que a carceragem, parcialmente destruída, seja reformada.
Eram 9h30m quando o detetive Fábio Guimarães Silva, de 33 anos, ouviu um forte barulho de grades batendo. Mesmo prestes a sair do trabalho, foi ver o que acontecia e acabou rendido. Os presos estavam armados com barras de ferro que serraram de três das cinco celas.
Os rebelados fizeram várias exigências, como telefones celulares, presença da imprensa, do governador e de um representante da Comissão dos Direitos Humanos da OAB. É na 16 DP que estão presos o filho do cantor Wando, Wanderley Alves dos Reis Júnior, de 22 anos, e o irmão do jogador Edmundo, Luiz Carlos Alves de Souza, de 24.
Policiais da 7 CIPM (Recreio), da Coordenadoria de Inteligência e Apoio Policial (Cinap) e do Esquadrão Antibombas cercaram o prédio durante todo o tempo. Equipados com bombas, coletes à prova de balas e capacetes, três agentes chegaram a entrar na carceragem. Mas às 13h30m, o refém, chorando, foi finalmente liberado.
ENTREVISTA
Luiz Eduardo Soares - subsecretário de Segurança Pública
'A resposta para isso é o fim do xadrez'
Como acabar com esses motins? A 16 DP está no programa Delegacia Legal, que prevê a eliminação das carceragens em distritos policiais?
Ela já está no nosso programa e a resposta para isso é o fim do xadrez nas delegacias. Não tem jeito. A gente agora vai solucionar esse problema, depois outro foco aparece ali porque as condições são precárias. Isso, inclusive, é inconstitucional e só se resolve de forma definitiva acabando com essas carceragens. Para isso, estamos construindo simultaneamente as delegacias legais e casas de custódia para fazer o deslocamento de presos.
A primeira casa de custódia fica pronta quando?
A primeira, no presídio Esmeraldino Bandeira, em Bangu, está quase pronta, devendo ser entregue em uns 15 dias, com capacidade para 600 homens.
O cronograma do Delegacia Legal, de reformular todas as unidades do Grande Rio até o ano que vem, está mantido?
Sim. O processo licitatório das próximas 18 unidades deve durar um mês. Haverá 60 dias para as obras, que devem estar prontas em três meses.
Violência e comida azeda
"Delegacia não é lugar para manter presos". Esta foi a frase mais repetida pelos delegados que participaram da negociação com os presos. Na carceragem onde caberiam 50 pessoas, 97 homens se amontoavam, quatro deles condenados. Fato que, na opinião do delegado titular da 16 DP, Napoleão Salgado, causa situações de estresse como a de ontem.
- Todos querem fugir - disse Napoleão, apoiado pelo delegado da Metropol II (Leblon), Rogério Marchesine, nas negociações.
Além da transferência de presos, que foi atendida, os presos reclamaram de comida azeda, agressões por parte dos policiais e falta de atendimento médico. Problemas negados pelo delegado.
- Cuidamos destas questões e sabemos que elas são a chama para explodir esse barril de pólvora - defendeu-se.
Carcereiro tem horas de terror
Às lágrimas, muito nervoso e traumatizado, o detetive Fábio Guimarães Silva, de 33 anos, saiu da carceragem depois de quatro horas nas mãos de quase cem homens. Há nove anos na polícia, três deles na Barra, Fábio estava acostumado a dar plantões como carcereiro e nunca tinha sofrido este tipo de violência.
Ao contrário, Fábio é respeitado pelos presos, o que pode ter salvo sua vida. Apesar de ficar abatido e ter a camisa rasgada, ele não foi agredido em nenhum momento. O detetive contou a colegas que um grupo de presos pensou em amarrá-lo, mas os mais antigos não deixaram. Uma demonstração, inclusive, da falta de liderança entre os rebelados.
O fato do detetive ter cumprido as normas de segurança também evitou uma tragédia. Ele tirou a arma e o celular antes de entrar na carceragem, rotina nem sempre seguida entre os carcereiros.
Parentes de famosos na cela
Horas antes do retorno do atacante Edmundo ao Vasco, o irmão do Animal, Luiz Carlos Alves de Souza, de 24 anos, voltou a ser notícia durante a rebelião na 16 DP. Luiz Carlos foi parar atrás das grades depois de roubar a casa do próprio Edmundo, na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, na madrugada de 23 de outubro do ano passado, quando levava um aparelho de som e uma caixa de isopor. Ele acabou sendo autuado por roubo a mão armada (artigo 157).
Já Wanderley Alves dos Reis Júnior, de 22, filho do cantor Wando, também está preso na 16 DP. Ele foi detido na madrugada de 15 de abril deste ano por tentativa de homicídio (artigo 121) ao atirar contra os seguranças Luís Cláudio da Silva e Marcos Fontes. Motivo da prisão: uma briga por causa de um pão de queijo em uma loja na Avenida das Américas.
Os dois se ofereceram - e foram usados - para serem reféns no lugar do detetive Fábio Silva.
Rebeliões são comuns em todo o estado
Motins provocados por superlotação como o da 16 DP são comuns em todo o Rio de Janeiro e, enquanto o programa Delegacia Legal (que prevê o fim das carceragens nos distritos policiais) não estiver concluído, continuarão acontecendo, como frisa o subsecretário de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares.
- A gente soluciona esse problema agora e depois outro foco aparece ali porque as condições são precárias - diz.
A última rebelião aconteceu no último dia 12, quando os 240 detentos da 134 DP, no Centro de Campos, incendiaram colchões e destruíram parte das grades das celas do xadrez. O lugar só comportava 60 homens.
Na noite de 18 de dezembro do ano passado, um motim de 130 detentos na 20 DP (Vila Isabel) resultou na morte do carcereiro Edson de Moura, assassinado com um tiro na cabeça.
No noite de 25 de janeiro deste ano, a 35 DP (Campo Grande) enfrentou uma situação semelhante à da 16 DP, quando os detentos tomaram como refém o carcereiro Wagner Gonçalves Faria. Na madrugada anterior, 31 homens fugiram da 71 DP (Itaboraí). Havia 80 presos, 64 acima da capacidade máxima.
Com Cristiane de Cássia

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