Dias de Notícias

Notícias escritas e assinadas por mim, Marcelo Dias, a partir de 1998.

segunda-feira, abril 19, 1999

Pedágio aumenta passagens

Cobrança em rodovias prejudica a redução do valor de algumas tarifas de ônibus

RIO (Extra) - O decreto que a partir de hoje reduz em 15% o valor das passagens de 588 linhas de ônibus intermunicipais traz exceções para as que pagam pedágio na Região Metropolitana e utilizam os terminais da Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e de Terminais do Estado (Coderte). Duas portarias estaduais permitem que tais gastos sejam repassados para a tarifa cobrada pelas empresas. Assim, as passagens dessas linhas podem ultrapassar o valor fixado pela Secretaria estadual de Transportes em até R$ 0,12.

O estado admite que os ônibus que cruzam a Ponte Rio-Niterói tenham suas passagens aumentadas em, no máximo, R$ 0,05. Os que passam pelos pedágios da BR-116 (Rio-Teresópolis), da BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e da Via Dutra (Rio-São Paulo), em até R$ 0,11 em suas tarifas. As linhas que utilizam as instalações da Coderte podem cobrar R$ 0,01 além da passagem normal.

Para que os passageiros não sejam pegos de surpresa, a Federação das Empresas de Transporte Rodoviário do Leste Meridional do Brasil (Fetranspor) determinou que esses ônibus tenham cartazes avisando sobre essa cobrança adicional. Apesar de ser legal, o governo considera injusta a brecha concedida pela lei e pretende rever esse e outros critérios adotados para o cálculo do valor das passagens após a instalação do Conselho de Política Tarifária, em maio.

- A tarifa é baseada em insumos e os do pedágio e dos terminais da Coderte são alguns deles. Mas esse valor é muito mais do que isso. Teremos um debate sobre transporte integrado e qualidade no serviço prestado e, assim, teremos outro quadro tarifário. Há algum esboço disso mas não temos datas para colocar o plano em prática, que é uma das metas do governo - explica o subsecretário de Transportes, Paulo Santos.

Empresários não aceitam os novos preços

O novo valor das passagens foi calculado de acordo com o Índice Geral de Preços, medido pela Fundação Getúlio Vargas, que considerou a inflação acumulada de junho de 1994 a fevereiro de 1999. O governador Anthony Garotinho optou por um reajuste menor do que o previsto (22,6%) para evitar maiores confrontos com a Fetranspor.

Este, no entanto, não é o pensamento dos empresários. Para eles, as tarifas estarão defasadas em 23%, o que, na opinião do superintendente da Fetranspor, Luiz Carlos de Urquiza Nóbrega, reduziria o setor rodoviário ao caos. O dirigente afirma que os cariocas viveriam uma situação semelhante a dos mexicanos e peruanos.

- A defasagem das novas tarifas é de 23%, fazendo com que as conseqüências desse decreto sejam catastróficas. Caminhamos para um sistema anárquico de transportes, em que há um aumento indiscriminado de oferta de vans e kombis piratas. O Rio será a Cidade de México em quatro ou cinco anos, e Lima, em sete. O governo tem que rever sua politica tarifária e reconhecer que se equivocou - protesta.

Nóbrega diz que os primeiros efeitos já surgiram, com funcionários demitidos e corte de investimentos. Mensalmente, o setor movimenta R$ 150 milhões. Segundo ele, as empresas haviam reservado R$ 400 milhões para renovar 10% da frota de 18,5 mil ônibus.

- Isso não vai mais acontecer. Os investimentos estão sendo cortados. A nossa frota é a mais nova do Brasil, com idade média de 2,7 anos. A de São Paulo tem cinco anos. Anualmente, renovamos um décimo dos ônibus. O pior é que outros municípios e estados querem adotar o mesmo procedimento. Será que todos os outros estão errados e só o Rio de Janeiro está certo? Os ônibus, hoje, estão em marcha a ré - reclama Nóbrega, que orientou as 64 empresas atingidas pelo decreto a questionarem a redução das tarifas na Justiça.

Eu acho que eles poderiam cobrar R$ 1,60 em vez dos R$ 2,17 oficiais

O manobrista Eduardo Farias mora em Imbariê e trabalha na Zona Sul

Moro em Imbariê, em Magé, e tenho que vir todos os dias para o Rio. Desço no Terminal Américo Fontenelle e faço uma baldeação na Central para pegar outro ônibus para o Jardim Botânico, onde trabalho como manobrista.

Daí, pego o Central-Magé (125C), que, incluindo a cobrança pelo pedágio de Imbariê, custa R$ 2,81. O correto seria R$ 2,70. Depois, gasto mais R$ 0,70 para ir para o trabalho.

E pago isso duas vezes, na ida e na volta. Se não tivesse vale-transporte, o salário não daria para sustentar minha mulher e minha filha de 1 ano. Ganho dois salários-mínimos e meio (R$ 325). Quem não tem vale-transporte fica prejudicado. Sem falar que tem essa tal taxa cobrados pelo pedágio. Isso é errado.

Mas, mesmo com a redução do preço das passagens de ônibus, o valor ainda está caro. Acho que poderia cair ainda mais. O novo valor é de R$ 2,17, mas, para mim, o justo seria cobrar R$ 1,60 pela passagem.


Cobrança menor no ano 2000

Mas, no que depender do governo, a briga com a Fetranspor terá novos rounds. Segundo o subsecretário de Transportes Paulo Santos, o governador Anthony Garotinho planeja executar novas reduções no ano que vem e, para isso, já foram dados os primeiros passos.

O reajuste de hoje é, na verdade, apenas uma média geral do que seria o valor correto a ser pago pelos usuários. O ideal é que se faça um levantamento individualizado, analisando as condições de cada linha de ônibus, o que já foi realizado em 160 trajetos.

Até o fim do ano, a Secretaria de Transportes terá concluído o estudo de todas as linhas que servem o Grande Rio, para efetivar os novos valores depois da virada do ano. O trabalho será incrementado com a implantação do Conselho de Política Tarifária, a ser constituído por governo, empresários, passageiros e técnicos em transporte urbano.

- Faremos uma análise profunda. Ainda há linhas superfaturadas e, até o fim do ano, já saberemos o valor real das linhas do Grande Rio. Depois, partiremos para um novo ajuste - anunciou Santos.