A Baixada na mira da Lei
Próximo desafio da Polícia é reduzir a criminalidade nos municípios da região
Depois de concentrar suas ações no programa Mutirão pela Paz, aplicado nos morros Dona Marta e do Pereirão, na Zona Sul, a Secretaria de Segurança Pública aponta suas baterias para a Baixada Fluminense, a fim de tentar debelar a violência que toma conta da região. As estatísticas reforçam essa necessidade: houve 350 assassinatos nos dois primeiros meses de 1999, 33,4% dos 1.047 casos de todo o estado. No mesmo período do ano passado, aconteceram 325 homicídios na Baixada e 1.097 no Rio de Janeiro.
Em 72 horas, dois exemplos chocaram a população durante a semana: oito pessoas foram assassinadas no domingo e na terça-feira, despedaçando duas famílias em Belford Roxo (considerado o município mais violento do estado) e em Nova Iguaçu. Diante desse quadro, o secretário de Segurança, coronel PM Josias Quintal, deve anunciar até sábado um plano para reduzir os índices de criminalidade, principalmente em Belford Roxo.
Quintal não quis adiantar detalhes, mas o subsecretário Luiz Eduardo Soares confirma que, entre as medidas em estudo, está o remanejamento de policiais militares para reforçar o patrulhamento. O objetivo é aumentar a presença policial, permitindo aos PMs estenderem o seu raio de ação, equipados com motos e aparelhos de comunicação.
- Estudamos maneiras de otimizar e utilizar melhor os policiais disponíveis, mas não vamos descobrir um santo para cobrir outro. O coronel (Josias Quintal) pretende deslocar o máximo de PMs para lá e as motos e os rádios poderão melhorar o seu desempenho, aumentando a cobertura do patrulhamento, sem remanejar muitos homens. Há planos sobretudo para Belford Roxo. Fora estas intervenções especificas, também vamos levar o Mutirão pela Paz para a Baixada - anunciou o subsecretário.
A medida vem em boa hora. Hoje, uma das carências da Baixada é o efetivo policial, insuficiente se comparado com a Zona Sul carioca, por exemplo. Os 3.092.074 habitantes do municípios da região contam com 2.835 PMs, registrando uma média de um PM para 1.090 pessoas. A diferença do universo protegido pela Polícia Militar na área nobre da capital do estado é gritante, onde um PM dá conta de 294 habitantes. Os 638.756 moradores da Zona Sul dispõem de 2.170 PMs.
Luiz Eduardo não fixa prazos, mas diz que a Secretaria executará o plano logo:
- O coronel é rápido. Ele é a jato. Quando decidir, ele faz.
Só o bandido ganha
Investigações quase não existem
Mas se os índices de homicídios na Baixada vêm aumentando, há uma parte da região em que a polícia parece ter descoberto a melhor maneira de combater esse tipo de crime. Transferido para a direção da Metropol 10 (Belford Roxo) no início do ano, o delegado Fernando Reis reformulou os métodos de trabalho das quatro delegacias de sua jurisdição. A fórmula é simples: investigar os casos assim que são registrados e colher os depoimentos imediatamente, ainda sob o calor da emoção das testemunhas e parentes das vítimas.
Os resultados já estão aparecendo. As estatísticas vêm caindo a números inferiores aos de dezembro do ano passado. A 54 DP (Belford Roxo), por exemplo, registrou 27 ocorrências naquele mês, 29 em janeiro e 34 em fevereiro. Em março, houve uma queda para 22 casos. Na 64 DP (Vilar dos Teles), os números desabaram de 29 homicídios em dezembro para dez em março, em uma curva descendente contínua.
- Remodelamos os núcleos de homicídios das delegacias. Assim que chega a notícia do crime, parte uma equipe da delegacia reforçada por agentes da Metropol. Assim, ouvimos logo todas as testemunhas e parentes. Se deixarmos para ouví-los depois, eles racionalizarão o medo de sofrer represálias futuras e não irão colaborar. À medida em que falam sob o impacto da revolta e da dor, eles falam o que sabem. Nessas horas, eles querem que se faça justiça rapidamente - explica Fernando Reis.
O delegado conta que esse processo aumentou o número de prisões, já que os mandados de busca e prisão preventiva são rápidos
Mas, tal como a PM, a Polícia Civil encontra dificuldades na falta de pessoal. Segundo Reis, cada divisão de homicídios deveria ter 16 homens e não os ''seis em média que fazem outras operações, parando todo o seu trabalho''.
Chamarelli, caçador implacável
Chefe de investigações da 58 DP (Posse), em Nova Iguaçu, o inspetor Júlio Chamarelli, de 45 anos, sabe bem o que é trabalhar na Baixada. Policial há 20 anos, consolidou fama de caçador de grupos de extermínio. Recentemente, recebeu várias ameaças de morte. O caso dele não é o único, mas dá uma boa noção do que é lidar com os esquadrões da morte que infestam a região.
- As ameaças cessaram. Recebi um bilhete em fevereiro e telefonemas a partir de março tentando me intimidar para não depor no Forum de Nova Iguaçu no próximo dia 27, quando serão julgados três integrantes de um grupo de extermínio de Belford Roxo e Queimados - diz Chamarelli.
O policial conta que um dos bandidos livres é fugitivo do Carandiru, em São Paulo, e que, além dele, o detetive Amauri Lima, da 55 DP (Queimados), também foi ameaçado de morte. No último dia 14, Lima foi alvejado por dois homens em uma moto próximo à sua casa, em Santa Rita. Nenhum dos tiros o acertou, mas o recado era claro: parar as investigações.
Sobre as razões para tamanha violência, Júlio Chamarelli aponta duas explicações:
- Acho que a impunidade é um fator estimulante e pode ser que o pouco policiamento ostensivo também contribua para agravar a situação.
Depois de concentrar suas ações no programa Mutirão pela Paz, aplicado nos morros Dona Marta e do Pereirão, na Zona Sul, a Secretaria de Segurança Pública aponta suas baterias para a Baixada Fluminense, a fim de tentar debelar a violência que toma conta da região. As estatísticas reforçam essa necessidade: houve 350 assassinatos nos dois primeiros meses de 1999, 33,4% dos 1.047 casos de todo o estado. No mesmo período do ano passado, aconteceram 325 homicídios na Baixada e 1.097 no Rio de Janeiro.
Em 72 horas, dois exemplos chocaram a população durante a semana: oito pessoas foram assassinadas no domingo e na terça-feira, despedaçando duas famílias em Belford Roxo (considerado o município mais violento do estado) e em Nova Iguaçu. Diante desse quadro, o secretário de Segurança, coronel PM Josias Quintal, deve anunciar até sábado um plano para reduzir os índices de criminalidade, principalmente em Belford Roxo.
Quintal não quis adiantar detalhes, mas o subsecretário Luiz Eduardo Soares confirma que, entre as medidas em estudo, está o remanejamento de policiais militares para reforçar o patrulhamento. O objetivo é aumentar a presença policial, permitindo aos PMs estenderem o seu raio de ação, equipados com motos e aparelhos de comunicação.
- Estudamos maneiras de otimizar e utilizar melhor os policiais disponíveis, mas não vamos descobrir um santo para cobrir outro. O coronel (Josias Quintal) pretende deslocar o máximo de PMs para lá e as motos e os rádios poderão melhorar o seu desempenho, aumentando a cobertura do patrulhamento, sem remanejar muitos homens. Há planos sobretudo para Belford Roxo. Fora estas intervenções especificas, também vamos levar o Mutirão pela Paz para a Baixada - anunciou o subsecretário.
A medida vem em boa hora. Hoje, uma das carências da Baixada é o efetivo policial, insuficiente se comparado com a Zona Sul carioca, por exemplo. Os 3.092.074 habitantes do municípios da região contam com 2.835 PMs, registrando uma média de um PM para 1.090 pessoas. A diferença do universo protegido pela Polícia Militar na área nobre da capital do estado é gritante, onde um PM dá conta de 294 habitantes. Os 638.756 moradores da Zona Sul dispõem de 2.170 PMs.
Luiz Eduardo não fixa prazos, mas diz que a Secretaria executará o plano logo:
- O coronel é rápido. Ele é a jato. Quando decidir, ele faz.
Só o bandido ganha
Investigações quase não existem
Mas se os índices de homicídios na Baixada vêm aumentando, há uma parte da região em que a polícia parece ter descoberto a melhor maneira de combater esse tipo de crime. Transferido para a direção da Metropol 10 (Belford Roxo) no início do ano, o delegado Fernando Reis reformulou os métodos de trabalho das quatro delegacias de sua jurisdição. A fórmula é simples: investigar os casos assim que são registrados e colher os depoimentos imediatamente, ainda sob o calor da emoção das testemunhas e parentes das vítimas.
Os resultados já estão aparecendo. As estatísticas vêm caindo a números inferiores aos de dezembro do ano passado. A 54 DP (Belford Roxo), por exemplo, registrou 27 ocorrências naquele mês, 29 em janeiro e 34 em fevereiro. Em março, houve uma queda para 22 casos. Na 64 DP (Vilar dos Teles), os números desabaram de 29 homicídios em dezembro para dez em março, em uma curva descendente contínua.
- Remodelamos os núcleos de homicídios das delegacias. Assim que chega a notícia do crime, parte uma equipe da delegacia reforçada por agentes da Metropol. Assim, ouvimos logo todas as testemunhas e parentes. Se deixarmos para ouví-los depois, eles racionalizarão o medo de sofrer represálias futuras e não irão colaborar. À medida em que falam sob o impacto da revolta e da dor, eles falam o que sabem. Nessas horas, eles querem que se faça justiça rapidamente - explica Fernando Reis.
O delegado conta que esse processo aumentou o número de prisões, já que os mandados de busca e prisão preventiva são rápidos
Mas, tal como a PM, a Polícia Civil encontra dificuldades na falta de pessoal. Segundo Reis, cada divisão de homicídios deveria ter 16 homens e não os ''seis em média que fazem outras operações, parando todo o seu trabalho''.
Chamarelli, caçador implacável
Chefe de investigações da 58 DP (Posse), em Nova Iguaçu, o inspetor Júlio Chamarelli, de 45 anos, sabe bem o que é trabalhar na Baixada. Policial há 20 anos, consolidou fama de caçador de grupos de extermínio. Recentemente, recebeu várias ameaças de morte. O caso dele não é o único, mas dá uma boa noção do que é lidar com os esquadrões da morte que infestam a região.
- As ameaças cessaram. Recebi um bilhete em fevereiro e telefonemas a partir de março tentando me intimidar para não depor no Forum de Nova Iguaçu no próximo dia 27, quando serão julgados três integrantes de um grupo de extermínio de Belford Roxo e Queimados - diz Chamarelli.
O policial conta que um dos bandidos livres é fugitivo do Carandiru, em São Paulo, e que, além dele, o detetive Amauri Lima, da 55 DP (Queimados), também foi ameaçado de morte. No último dia 14, Lima foi alvejado por dois homens em uma moto próximo à sua casa, em Santa Rita. Nenhum dos tiros o acertou, mas o recado era claro: parar as investigações.
Sobre as razões para tamanha violência, Júlio Chamarelli aponta duas explicações:
- Acho que a impunidade é um fator estimulante e pode ser que o pouco policiamento ostensivo também contribua para agravar a situação.

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