Um beijo antes de morrer
Mulher briga com o marido em casa, leva facada e cai nos braços do filho
RIO (Extra) - "Eu te amo". Com estas palavras, Maria Cristina Vieira Valgas, de 44 anos, se despediu tragicamente do filho mais velho, Vinícius, de 22. Maria Cristina morreu ontem de madrugada devido a uma facada sofrida nas costas durante uma briga com o marido, o corretor de imóveis Carlos Alberto Valgas, de 48. Ela ainda conseguiu ir ao quarto do filho para lhe dar um último beijo e morrer em seus braços.
O crime aconteceu por volta de 3h40m, na cobertura onde a família mora, na Rua Vinícius de Moraes, em Ipanema. Segundo o depoimento que Vinícius prestou ao delegado Ivo Raposo Júnior, da 13ª DP (Ipanema), Maria Cristina e Carlos Alberto foram jogar bingo no Scala e chegaram em casa discutindo, às 3h.
O rapaz contou que as brigas eram constantes.
No início do ano, ele brigou com o pai e registrou a agressão na delegacia. Vinícius tentou evitar o pior: primeiro, pediu que a mãe dormisse com ele, e, depois, se ofereceu para dormir no quarto dos pais. Entretanto, Maria Cristina preferiu acalmar o marido. Logo depois, Vinícius ouviu os gritos desesperados da mãe.
A partir daí, surgem duas versões. O delegado acredita em premeditação do crime, pois Carlos Alberto desconfiava de uma traição e já estava com a faca no quarto. Já o assassino diz que a mulher se recusou a manter relações sexuais com ele.
- Ele chegou em casa bêbado e devia estar querendo fazer isso. O mais lamentável é o filho com a mãe nos braços apunhalada - disse Raposo.
Dentro de dez dias, Ivo Raposo deverá convocar Rodrigo e a madrinha de Vinícius, identificada como Licianara, para depor. Licianara estava com o casal no Scala Bingo.
Isso tinha que acontecer comigo, não com ela. Agora, acabei com a minha família toda. Acabei com tudo
Carlos Alberto Valgas diz que a mulher, Maria Cristina, morreu ao cair em cima da faca que carregava nas mãos
Discrição em público
Um casal tranqüilo que nunca foi visto discutindo em público. É assim que Maria Cristina e Carlos Alberto Valgas são descritos pelos vizinhos e colegas de trabalho. Há três meses, a família Valgas se mudou de um apartamento na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa, para uma cobertura de dois quartos na Rua Vinícius de Moraes, em Ipanema.
Vizinha de cobertura, foi Isabela Souza Lima que chamou a polícia. Segundo ela, os Valgas eram bastante calmos e discretos. Nem mesmo na madrugada de ontem houve indícios de briga ou confusão.
- Acordei com o barulho da campainha, entre 4h e 4h15m. Eram os dois irmãos (Vinícius e Rodrigo) pedindo para chamar a polícia. Eles eram bem tranqüilos - contou Isabela.
Na galeria Ipanema 2000, na Rua Visconde de Pirajá, a notícia da morte de Maria Cristina chocou aqueles que conviviam com o casal na corretora Brito e Cordeiro Administradora de Imóveis Ltda.
- Conhecia os dois há seis anos. Ele era afável e ela, bem expansiva. Nunca iria imaginar uma coisa dessas. Ontem mesmo subi com a Maria Cristina no elevador - disse um colega que não quis se identificar.
Revolta e tensão marcam enterro
Os dois filhos e vários parentes de Maria Cristina Vieira Valgas, de 44 anos, estavam consternados durante o enterro, ontem à tarde, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Ninguém quis falar sobre o crime e ainda impediram o acesso de repórteres ao local. Familiares resolveram antecipar o cortejo e o sepultamento, marcado anteriormente para 17h. Aproximadamente 50 pessoas compareceram ao cemitério e todas elas mostravam revolta com o assassinato. Apesar de atestarem que o casal brigava demais, alguns familiares se disseram surpresos com o desfecho trágico.
A versão do criminoso e marido da vítima, Carlos Alberto Vieira Valgas, também revoltou quem foi ao enterro. Ninguém acredita na versão que ele deu ao crime: de que a mulher caíra em cima da faca, que estava em cima da cama.
Circunstâncias apontam para a condenação
Para o delegado Ivo Raposo Júnior, titular da 13ª DP (Ipanema), dificilmente Carlos Alberto Valgas deixará de ser condenado pelo assassinato de Maria Cristina. Segundo ele, a pena varia de 12 a 30 anos de prisão. O caso de Carlos Alberto, no entanto, tem um agravante: no início do ano, ele foi denunciado por agressão física pelo filho Vinícius.
- Este antecedente poderá ilustrar o temperamento dele durante o julgamento no Tribunal do Juri - explicou o delegado.
Ivo Raposo aponta outros três pontos que, em sua opinião, descartam qualquer possibilidade de defesa do acusado. O principal deles se refere à arma do crime. A faca usada para matar Maria Cristina já estava no quarto do casal. De acordo com o policial, este é um forte indício de que o crime foi premeditado:
- Os dois viviam discutindo, havia a suspeita de traição e a faca estava com ele. Quero ver ele arranjar um advogado que justifique isso. Para mim, é injustificável.
Quanto à alegação de que Maria Cristina teria caído sobre a faca durante uma tentativa de estupro, Ivo Raposo disse que a versão contada por Carlos Alberto na delegacia perde sua força diante das circunstâncias do homicídio:
- A Maria Cristina lutou para se defender. Havia restos de pele sob suas unhas. Na barriga dele, há três marcas de unha.
Fracassos na raia
Valgas foi um jóquei medíocre
Um jóquei que nunca se destacou em 20 anos de carreira. Carlos Alberto Valgas jamais venceu qualquer páreo expressivo e nem montou um cavalo de primeiro time. Valgas sempre esteve no pelotão intermediário, sem ter um único registro de destaque no turfe carioca. Vez ou outra sentiu o prazer de subir no degrau mais alto do pódio.
Ironicamente, o corretor destruiu a conquista mais importante que obteve nas raias do Jockey Club Brasileiro e da Vila Hípica. Foi lá que ele conheceu sua futura mulher, Maria Cristina Vieira, filha de seu treinador, Altamir Vieira.
Desiludido com as poucas oportunidades que lhe eram oferecidas, Carlos Alberto abandonou a carreira aos poucos. Depois de se descuidar da forma física, começou a engordar. Finalmente, na metade dos anos 80, ele abandonou as rédeas.
Desde então, Carlos Alberto e Maria Cristina trabalhavam como corretores na Brito e Cordeiro Administradora de Imóveis Ltda., em Ipanema. Mas o gosto pelo jogo não ficou perdido nas cocheiras do Jockey Club. O casal freqüentava regularmente o bingo do Scala, no Leblon.
Segundo a gerência da casa, os dois nunca foram vistos brigando durante o bingo. Pelo menos, até a madrugada de ontem.
RIO (Extra) - "Eu te amo". Com estas palavras, Maria Cristina Vieira Valgas, de 44 anos, se despediu tragicamente do filho mais velho, Vinícius, de 22. Maria Cristina morreu ontem de madrugada devido a uma facada sofrida nas costas durante uma briga com o marido, o corretor de imóveis Carlos Alberto Valgas, de 48. Ela ainda conseguiu ir ao quarto do filho para lhe dar um último beijo e morrer em seus braços.
O crime aconteceu por volta de 3h40m, na cobertura onde a família mora, na Rua Vinícius de Moraes, em Ipanema. Segundo o depoimento que Vinícius prestou ao delegado Ivo Raposo Júnior, da 13ª DP (Ipanema), Maria Cristina e Carlos Alberto foram jogar bingo no Scala e chegaram em casa discutindo, às 3h.
O rapaz contou que as brigas eram constantes.
No início do ano, ele brigou com o pai e registrou a agressão na delegacia. Vinícius tentou evitar o pior: primeiro, pediu que a mãe dormisse com ele, e, depois, se ofereceu para dormir no quarto dos pais. Entretanto, Maria Cristina preferiu acalmar o marido. Logo depois, Vinícius ouviu os gritos desesperados da mãe.
A partir daí, surgem duas versões. O delegado acredita em premeditação do crime, pois Carlos Alberto desconfiava de uma traição e já estava com a faca no quarto. Já o assassino diz que a mulher se recusou a manter relações sexuais com ele.
- Ele chegou em casa bêbado e devia estar querendo fazer isso. O mais lamentável é o filho com a mãe nos braços apunhalada - disse Raposo.
Dentro de dez dias, Ivo Raposo deverá convocar Rodrigo e a madrinha de Vinícius, identificada como Licianara, para depor. Licianara estava com o casal no Scala Bingo.
Isso tinha que acontecer comigo, não com ela. Agora, acabei com a minha família toda. Acabei com tudo
Carlos Alberto Valgas diz que a mulher, Maria Cristina, morreu ao cair em cima da faca que carregava nas mãos
Levantei a roupa dela porque queria transar. Como ela não queria, empurrei-a na cama. Estava escuro, eu a segurei e virei. Foi aí que ouvi um berro. O meu filho entrou, acendeu a luz e eu vi o sangue e a faca de cabo branco. Não sei como ela foi parar lá. Quando vi, estava tudo cheio de sangue.
Agora, estou aqui. Quem matou fui eu. Ela era a pessoa que eu mais amava. Ela falou que não queria transar. Eu não sabia que ela estava com uma faca na mão. Não sou de matar ninguém. Na minha família, não tem assassino.
Perdi alguém que amo. Isso tinha que acontecer comigo, não com ela. Não sou assassino. Éramos casados há 26 anos. Me diz uma coisa. Como você acha que me sinto? Qual é o casal que não discute?
Também discuto com meus filhos. Naquela hora, o Rodrigo estava dormindo. Há alguns meses, dei uns tapas no Vinícius e ele disse que ia chamar a polícia. Então, falei para ele chamar. Nem me lembro do motivo. Acho que ele queria sair eu não deixei.
Agora, só sei que acabei com a minha família toda. Acabei com tudo. Olhe como estou. Não sou um assassino. Não matei ninguém. Não desejo isso para ninguém. Foi um acidente. Ela caiu em cima da faca. Não enfiei a faca nela. Não sabia que a faca estava com ela. Eu só a empurrei. Preferia a morte para mim.
Discrição em público
Um casal tranqüilo que nunca foi visto discutindo em público. É assim que Maria Cristina e Carlos Alberto Valgas são descritos pelos vizinhos e colegas de trabalho. Há três meses, a família Valgas se mudou de um apartamento na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa, para uma cobertura de dois quartos na Rua Vinícius de Moraes, em Ipanema.
Vizinha de cobertura, foi Isabela Souza Lima que chamou a polícia. Segundo ela, os Valgas eram bastante calmos e discretos. Nem mesmo na madrugada de ontem houve indícios de briga ou confusão.
- Acordei com o barulho da campainha, entre 4h e 4h15m. Eram os dois irmãos (Vinícius e Rodrigo) pedindo para chamar a polícia. Eles eram bem tranqüilos - contou Isabela.
Na galeria Ipanema 2000, na Rua Visconde de Pirajá, a notícia da morte de Maria Cristina chocou aqueles que conviviam com o casal na corretora Brito e Cordeiro Administradora de Imóveis Ltda.
- Conhecia os dois há seis anos. Ele era afável e ela, bem expansiva. Nunca iria imaginar uma coisa dessas. Ontem mesmo subi com a Maria Cristina no elevador - disse um colega que não quis se identificar.
Revolta e tensão marcam enterro
Os dois filhos e vários parentes de Maria Cristina Vieira Valgas, de 44 anos, estavam consternados durante o enterro, ontem à tarde, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Ninguém quis falar sobre o crime e ainda impediram o acesso de repórteres ao local. Familiares resolveram antecipar o cortejo e o sepultamento, marcado anteriormente para 17h. Aproximadamente 50 pessoas compareceram ao cemitério e todas elas mostravam revolta com o assassinato. Apesar de atestarem que o casal brigava demais, alguns familiares se disseram surpresos com o desfecho trágico.
A versão do criminoso e marido da vítima, Carlos Alberto Vieira Valgas, também revoltou quem foi ao enterro. Ninguém acredita na versão que ele deu ao crime: de que a mulher caíra em cima da faca, que estava em cima da cama.
Circunstâncias apontam para a condenação
Para o delegado Ivo Raposo Júnior, titular da 13ª DP (Ipanema), dificilmente Carlos Alberto Valgas deixará de ser condenado pelo assassinato de Maria Cristina. Segundo ele, a pena varia de 12 a 30 anos de prisão. O caso de Carlos Alberto, no entanto, tem um agravante: no início do ano, ele foi denunciado por agressão física pelo filho Vinícius.
- Este antecedente poderá ilustrar o temperamento dele durante o julgamento no Tribunal do Juri - explicou o delegado.
Ivo Raposo aponta outros três pontos que, em sua opinião, descartam qualquer possibilidade de defesa do acusado. O principal deles se refere à arma do crime. A faca usada para matar Maria Cristina já estava no quarto do casal. De acordo com o policial, este é um forte indício de que o crime foi premeditado:
- Os dois viviam discutindo, havia a suspeita de traição e a faca estava com ele. Quero ver ele arranjar um advogado que justifique isso. Para mim, é injustificável.
Quanto à alegação de que Maria Cristina teria caído sobre a faca durante uma tentativa de estupro, Ivo Raposo disse que a versão contada por Carlos Alberto na delegacia perde sua força diante das circunstâncias do homicídio:
- A Maria Cristina lutou para se defender. Havia restos de pele sob suas unhas. Na barriga dele, há três marcas de unha.
Fracassos na raia
Valgas foi um jóquei medíocre
Um jóquei que nunca se destacou em 20 anos de carreira. Carlos Alberto Valgas jamais venceu qualquer páreo expressivo e nem montou um cavalo de primeiro time. Valgas sempre esteve no pelotão intermediário, sem ter um único registro de destaque no turfe carioca. Vez ou outra sentiu o prazer de subir no degrau mais alto do pódio.
Ironicamente, o corretor destruiu a conquista mais importante que obteve nas raias do Jockey Club Brasileiro e da Vila Hípica. Foi lá que ele conheceu sua futura mulher, Maria Cristina Vieira, filha de seu treinador, Altamir Vieira.
Desiludido com as poucas oportunidades que lhe eram oferecidas, Carlos Alberto abandonou a carreira aos poucos. Depois de se descuidar da forma física, começou a engordar. Finalmente, na metade dos anos 80, ele abandonou as rédeas.
Desde então, Carlos Alberto e Maria Cristina trabalhavam como corretores na Brito e Cordeiro Administradora de Imóveis Ltda., em Ipanema. Mas o gosto pelo jogo não ficou perdido nas cocheiras do Jockey Club. O casal freqüentava regularmente o bingo do Scala, no Leblon.
Segundo a gerência da casa, os dois nunca foram vistos brigando durante o bingo. Pelo menos, até a madrugada de ontem.
