Dias de Notícias

Notícias escritas e assinadas por mim, Marcelo Dias, a partir de 1998.

domingo, fevereiro 28, 1999

Roubo de carro a reboque

Quadrilhas usam guinchos iguais aos da Prefeitura para levar automóveis

RIO (Extra) - A sofisticação e a ousadia das quadrilhas especializadas em roubo e furto de automóvel parecem não ter limites. A polícia está investigando a utilização de reboques iguais aos contratados pela Prefeitura, pintados com as cores da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), para roubar, principalmente, carros caros e importados. Além disso, as gangues estão usando aparelhos como telefones celulares e walkie-talkies para que grupos de apoio ao assalto transmitam informações durante a fuga.

- Começamos a investigar o caso pouco antes de dezembro. Com os reboques, os ladrões fogem sem despertar suspeita da PM - diz o delegado Zaqueu Teixeira, ex-diretor da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos Automotores Terrestres (DRFVAT), que não continuou a investigação por ter sido transferido, em dezembro, para a 37 DP (Ilha).

Segundo Zeca Borges, coordenador do serviço Disque-Denúncia, da Associação Rio Contra o Crime, as denúncias sobre esta nova modalidade de furto são antigas:

- No ano passado, a DRFVAT descobriu três reboques iguais aos da CET-Rio na Barra, mas os carros guinchados não eram roubados e o caso não foi registrado.

Portanto, não foi à toa que a quantidade de crimes registrados pela DRFVAT aumentou nos últimos dois anos, passando de 37.175 casos, em 1996, para 41.068, no ano passado. E os números podem piorar: em janeiro deste ano, foram anotadas 3.848 ocorrências, contra as 3.289 do mesmo período, em 1998. Um salto de 16,99% nas estatísticas do mês, que teve seu pior momento em 1994, quando houve 4.029 casos.

Meu carro foi levado por um reboque azul

O executivo A.F.L. teve seu Vectra roubado por um reboque no Leblon no dia 28 de janeiro e teme que os ladrões voltem

Quebrou o radiador do meu carro e pedi o serviço de reboque da seguradora. Uma menina pegou todos os dados. Placa, chassis, ano de fabricação, meu nome, tudo. Ela falou que em uma hora um reboque pegaria o carro na minha casa e levaria para a concessionária. E foi o que aconteceu. O motorista do reboque apresentou tudo aquilo que informei e minha mulher entregou as chaves do carro. Só sei que era um reboque azul, que sumiu junto com meu carro. Esse cara sabe o meu nome, onde eu moro. Sabe tudo. Estou com medo. Não posso ficar tranqüilo por causa da minha mulher e do meu filho. A seguradora está investigando. Não recebemos nenhum documento comprovando a realização do serviço. Não recebi nada.


Delegado iniciou investigação há três meses

Segundo o delegado Zaqueu Teixeira, uma equipe da DRFVAT iniciou as investigações do caso dos falsos reboques no fim de novembro. Os trabalhos, no entanto, prosseguiram somente até o mês seguinte, quando começou a troca de comando das divisões especializadas e dos distritos policiais.

Antes, porém, houve a apreensão de três reboques iguais aos da CET-Rio conduzindo carros na Barra da Tijuca no ano passado. Os policiais, porém, constataram que os veículos não eram roubados e o caso não foi registrado na 16 DP (Barra) nem na DRFVAT, liberando os reboqueiros.

- Como a investigação ainda era muito incipiente, não pude oficializar um inquérito. Estávamos na pista deles, mas saí da delegacia no fim do ano - lamentou Teixeira, sem esconder sua surpresa com a agilidade dos bandidos.

Além da originalidade, as quadrilhas ainda têm mais três pontos a seu favor: a transição promovida na Polícia Civil; a falta de comunicação entre as polícias civil, militar e rodoviária; e carência crônica de infraestrutura.

- Tenho 11 viaturas. Isso é brincadeira! A Divisão Anti-Seqüestro tem mais de 20, motos e telefone celular. Podemos fazer mais com policiamento ostensivo da PM e fiscalização das Metropols nos ferros-velhos - reclama o novo diretor da DRFVAT, Márcio Zucarelli.

De acordo com ele, a caça aos reboques está emperrada na ausência de informações. Da antiga equipe de Zaqueu Teixeira, restou apenas um detetive na DRFVAT, quebrando a seqüência do trabalho.

- Estamos começando tudo do zero - reconhece Márcio Zucarelli.

Bandidos agem desde 98

Se a DRFVAT começou a investigar as quadrilhas de reboque apenas no fim de 1998, as informações sobre a existência dessas gangues já existem há um ano. Porém, a polícia nunca conseguiu prender ninguém em flagrante.

De acordo com o coordenador da Associação Rio Contra o Crime, Zeca Borges, as denúncias desta forma de furto de veículos são antigas, mas falta a comprovação policial:

- Sabemos disso há muito tempo, mas faltam provas. A DRFVAT quase conseguiu prender três desses reboqueiros na Barra, mas não comprovou o envolvimento deles.

O chefe de investigações da 35 DP (Campo Grande), Ronaldo Martins, confirma que essas quadrilhas agem, pelo menos, desde 1998. Lotado na 32 DP (Jacarepaguá) até dezembro, ele conta que recebeu informações sobre o envolvimento de reboques no roubo de veículos no bairro:

- Houve uma mulher que percorreu vários depósitos à procura do carro. Soubemos, depois, que havia reboques iguais aos da CET-Rio roubando carros na região.

Reboques devem ter fiscais

Tamanha audácia dos marginais se justifica: segundo o Sindicato das Seguradoras do Estado do Rio de Janeiro, as companhias de seguro gastaram R$ 3,5 bilhões no pagamento de apólices no ano passado. Deste total, aproximadamente R$ 240 milhões cobriram indenizações para veículos roubados. O montante é uma boa amostra do filão explorado pelas quadrilhas.

O subsecretário municipal de Trânsito, coronel Hamilton Dorta, diz que os motoristas devem tomar alguns cuidados na hora de identificar um reboque a serviço da CET-Rio, como pedir documentos que o autorizem a guinchar veículos em nome da Prefeitura.

- Os reboques sempre andam em comboio, com o acompanhamento de um fiscal de trânsito ou de um guarda municipal. Além disso, eles são brancos, com os símbolos da Prefeitura (um golfinho) e as faixas características da CET-Rio (azul e amarelo fluorescente) - explicou o subsecretário.

Quadrilhas ’on-line’

Bandidos usam telefones e walkie-talkies para abrir caminho

RIO (Extra) - Como se não bastasse o uso de falsos reboques, as quadrilhas sofisticaram o roubo de veículos, utilizando aparelhos de comunicação. Quinta-feira passada, agentes da Metropol III (Tijuca) prenderam dois ladrões de carro com três walkie-talkies, no Grajaú, bairro da Grande Tijuca, região considerada crítica pela DRFVAT.

A formação intelectual dos criminosos também acompanhou o arrojo. A maioria possui o Segundo Grau completo e até nível superior, incrementando ainda mais os métodos utilizados pelos bandos, que agem mediante encomendas. Cada serviço rende até R$ 5 mil, dependendo do carro.

Filho de um ex-diplomata sueco, Egon Sapieha, por exemplo, tem oito mandados de prisão expedidos contra si. Seu sócio, Emanoel Ferreira, foi preso em 1997. Outro procurado pela polícia é Emiliano Nascimento Ferreira, o Minho, que atua em Laranjeiras. O relato das vítimas contém surpresa durante os assaltos. Em 31 de outubro, o empresário M.T. foi abordado por um homem armado e vestido de blazer, na esquina da Avenida Vieira Souto com a Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema. O assaltante assumiu a direção da Pajero (KNR-3882, modelo 98) e tomou o rumo do Túnel Rebouças.

Durante todo o percurso, o bandido conversou com os comparsas, trocando informações sobre a melhor rota de fuga. O empresário conta que, para despistar, o marginal falava uma série de gírias. M.T. acompanhou o grupo até a rampa de descida do Elevado Paulo de Frontin, na Praça da Bandeira, onde foi liberado.

No último dia 21 de dezembro, a empresária A.F. teve sua Toyota Hylux (KMF-5096) levada por um homem bem vestido na Rua Dias Ferreira, no Leblon. Assim como M.T., A. também foi assaltada no final da noite por um marginal que mantinha comunicação com outros marginais. Com um walkie-talkie, ele era orientado pelo resto da quadrilha.

Velhos golpes preocupam

Outro problema da DRFVAT é a falta de fiscalização sobre os ferros-velhos e as oficinas de desmanche do estado. Há 600 estabelecimentos cadastrados na delegacia, mas estima-se que haja mais de dois mil ilegais no Grande Rio. Segundo a polícia, donos de ferros-velhos clandestinos contratam ladrões, encomendando carros populares para revender as peças e faturar o triplo do valor do veículo.

Há ainda uma forma de crime conhecida como golpe do salvado, na qual automóveis degradados são arrematados por preços baixos nos leilões das seguradoras. O objetivo do negócio não é o carro, mas o chassis, que é usado para "esquentar" a carcaça de outro veículo idêntico àquele modelo, roubado por encomenda.

Em seguida, um remarcador faz o "transplante" da carroceria para que esse carro "novo" seja vendido. O comprador só irá descobrir a fraude quando pagar o IPVA, no Detran, onde o veículo estará registrado em nome de outra pessoa.

Outra forma de golpe é aplicada pelo próprio dono do automóvel, que o vende a um ferro-velho e registra o fato na delegacia como roubo, para receber o dinheiro do seguro.

Existem também empresas recuperadoras de veículos que cobram um resgate das seguradoras, que preferem pagar até 40% do preço de mercado do carro a ter de desembolsar o valor do seguro.

Ligavam para dar as dicas de trânsito

A picape Pajero do empresário M.T. foi roubada em outubro de 1998, por uma quadrilha que se comunicava pelo celular

O cara era educado. Ele só puxou uma 9mm e queria me levar junto, mandando que não olhasse para o rosto dele. Vi que havia outros dois caras dentro de uma Parati que vinha atrás. Pelo celular, alguém ligava para ele, dando orientações do trânsito e da presença da polícia. "Dobra pra lá. Dobra pra cá".

Há três anos, tive um Omega Suprema roubado na Avenida Epitácio Pessoa, na Lagoa, perto da minha casa, por um sujeito bem mais rude. Mas o que me assaltou em Ipanema estava perfumado, vestia paletó, camisa rolé, usava óculos de aro. Ele era jovem, de uns 28 anos, mulato, cabelo baixinho, barba feita. Ele ainda levou o meu celular, mas me deixou ficar com a bolsa da minha mulher. Acho que levaram esse carro para o Paraguai.

domingo, fevereiro 07, 1999

Rio terá curso de segurança pública

Proposta de pós-graduação, inédita na América Latina, quer integrar ação policial ao meio social. As aulas começam no próximo semestre

RIO (Extra) - O governador Anthony Garotinho pretende fazer do Rio de Janeiro um modelo em política de segurança pública para o Brasil e toda a América Latina. Para isso, determinou que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) elaborasse um curso de pós-graduação voltado para todos os agentes de segurança (polícias civil e militar, bombeiros e Defesa Civil). O projeto do Curso em Segurança Social será entregue ao governador até amanhã, devendo ser implementado no início do segundo semestre deste ano.

O principal objetivo da pós-graduação, com duração de três anos, será integrar a ação policial ao meio social em que ela acontece, interagindo com as diferentes realidades vividas pela população. Entre as disciplinas do currículo do curso, estão antropologia, sociologia, psicologia, direito, informática e história. O entusiasmo pela idéia é tão grande, que a cúpula do Governo a considera uma virada radical na concepção de segurança no país.

Segundo o criador do projeto, o subsecretário estadual de Ciência e Tecnologia, Ricardo Vieiralves, ex-subreitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Uerj, apenas cinco países possuem algo semelhante: Canadá, Estados Unidos, Alemanha, França e Grã-Bretanha.

- O nível de escolaridade formal não é qualificador para a pessoa realizar uma investigação. Queremos que ela aprenda mecanismos de processos de investigação e entendimentos de situações sociais, como o das gangues de bairro, em Ipanema. Isso é um problema de sociologia. Não se trata só de política de estado, mas também de organização social. Entendendo isso, o trabalho fica muito mais preciso. Só com a escolaridade tradicional, não dá - raciocina Vieiralves.

De acordo com o subsecretário de Segurança, Luiz Eduardo Soares, o estado ocupa a vanguarda no que se refere à produção de uma política de segurança aliada aos aspectos sociais:

- Pela primeira vez, investiremos na qualificação de profissionais de alto nível, dando uma visão integrada à sociedade, uma perspectiva global. Acho que vamos atrair quadros até de outros estados.

Enfático, Ricardo Vieiralves considera a proposta uma "revolução na polícia do Brasil":

- Será uma virada radical.

Idéia aprovada por delegados

A proposta de criação de um curso de pós-graduação, mesclando segurança e cidadania, foi comemorada pelos delegados das principais divisões especializadas da Polícia Civil. Para o diretor da Divisão Anti-Seqüestro (DAS), Marcos Reimão, faltava ao estado investir nesse tipo de formação policial.

- A principal meta deve ser investir no homem. Fiz um curso semelhante há cinco anos, também na Uerj, no qual discutimos cidadania, direitos humanos e contradições sociais. É preciso investigar e interagir, para que possamos nos infiltrar nas comunidades - conta Reimão, responsável pela equipe considerada uma ilha de excelência na polícia.

Com dois cursos de especialização em resgate realizados no ano passado, em Israel e nos Estados Unidos, o delegado Márcio Franco, diretor da Delegacia de Roubos e Furtos, diz que o projeto irá aumentar o potencial das investigações:

- Esse enfoque social é importante, porque devemos saber lidar até com linguajar diferente. Mesclar direito, comunicação, psicologia com a ação policial potencializa o nosso trabalho.

Proposta é bem aceita pela PM

Considerada violenta por organizações de defesa dos direitos humanos, a Polícia Militar já foi apresentada pelo subsecretário de Segurança, Luiz Eduardo Soares, ao projeto do Curso em Segurança Social. Na quinta-feira passada, ele discutiu a proposta com o comandante do 9 BPM (Rocha Miranda), tenente-coronel Carlos Alberto Silva.

- Sou adepto da idéia. A pós-graduação será muito importante, fornecendo uma visão global de toda a situação em que vivemos. Sinto que há um entusiasmo muito grande em torno do plano - diz o oficial, líder do batalhão que já protagonizou episódios como o da chacina de Vigário Geral, em 1993.

O comandante do 16 BPM (Olaria), tenente-coronel Jorge Duarte, compartilha da opinião de Silva. Atuando em uma área problemática - o Complexo do Alemão -, Duarte aplaude a decisão do governador:

- Conversei com subsecretário e ele disse que direitos humanos não é o direito do bandido, mas uma questão social. Não basta combater o crime. É preciso conhecer o terreno em que pisamos. Falta uma interação maior. É a primeira vez que vejo um governo lidar com isso profundamente, tentando puxar os policiais para os problemas da sociedade.

Rio terá curso de segurança pública

Proposta de pós-graduação, inédita na América Latina, quer integrar ação policial ao meio social. As aulas começam no próximo semestre

RIO (Extra) - O governador Anthony Garotinho pretende fazer do Rio de Janeiro um modelo em política de segurança pública para o Brasil e toda a América Latina. Para isso, determinou que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) elaborasse um curso de pós-graduação voltado para todos os agentes de segurança (polícias civil e militar, bombeiros e Defesa Civil). O projeto do Curso em Segurança Social será entregue ao governador até amanhã, devendo ser implementado no início do segundo semestre deste ano.

O principal objetivo da pós-graduação, com duração de três anos, será integrar a ação policial ao meio social em que ela acontece, interagindo com as diferentes realidades vividas pela população. Entre as disciplinas do currículo do curso, estão antropologia, sociologia, psicologia, direito, informática e história. O entusiasmo pela idéia é tão grande, que a cúpula do Governo a considera uma virada radical na concepção de segurança no país.

Segundo o criador do projeto, o subsecretário estadual de Ciência e Tecnologia, Ricardo Vieiralves, ex-subreitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Uerj, apenas cinco países possuem algo semelhante: Canadá, Estados Unidos, Alemanha, França e Grã-Bretanha.

- O nível de escolaridade formal não é qualificador para a pessoa realizar uma investigação. Queremos que ela aprenda mecanismos de processos de investigação e entendimentos de situações sociais, como o das gangues de bairro, em Ipanema. Isso é um problema de sociologia. Não se trata só de política de estado, mas também de organização social. Entendendo isso, o trabalho fica muito mais preciso. Só com a escolaridade tradicional, não dá - raciocina Vieiralves.

De acordo com o subsecretário de Segurança, Luiz Eduardo Soares, o estado ocupa a vanguarda no que se refere à produção de uma política de segurança aliada aos aspectos sociais:

- Pela primeira vez, investiremos na qualificação de profissionais de alto nível, dando uma visão integrada à sociedade, uma perspectiva global. Acho que vamos atrair quadros até de outros estados.

Enfático, Ricardo Vieiralves considera a proposta uma "revolução na polícia do Brasil":

- Será uma virada radical.

Idéia aprovada por delegados

A proposta de criação de um curso de pós-graduação, mesclando segurança e cidadania, foi comemorada pelos delegados das principais divisões especializadas da Polícia Civil. Para o diretor da Divisão Anti-Seqüestro (DAS), Marcos Reimão, faltava ao estado investir nesse tipo de formação policial.

- A principal meta deve ser investir no homem. Fiz um curso semelhante há cinco anos, também na Uerj, no qual discutimos cidadania, direitos humanos e contradições sociais. É preciso investigar e interagir, para que possamos nos infiltrar nas comunidades - conta Reimão, responsável pela equipe considerada uma ilha de excelência na polícia.

Com dois cursos de especialização em resgate realizados no ano passado, em Israel e nos Estados Unidos, o delegado Márcio Franco, diretor da Delegacia de Roubos e Furtos, diz que o projeto irá aumentar o potencial das investigações:

- Esse enfoque social é importante, porque devemos saber lidar até com linguajar diferente. Mesclar direito, comunicação, psicologia com a ação policial potencializa o nosso trabalho.

Proposta é bem aceita pela PM

Considerada violenta por organizações de defesa dos direitos humanos, a Polícia Militar já foi apresentada pelo subsecretário de Segurança, Luiz Eduardo Soares, ao projeto do Curso em Segurança Social. Na quinta-feira passada, ele discutiu a proposta com o comandante do 9 BPM (Rocha Miranda), tenente-coronel Carlos Alberto Silva.

- Sou adepto da idéia. A pós-graduação será muito importante, fornecendo uma visão global de toda a situação em que vivemos. Sinto que há um entusiasmo muito grande em torno do plano - diz o oficial, líder do batalhão que já protagonizou episódios como o da chacina de Vigário Geral, em 1993.

O comandante do 16 BPM (Olaria), tenente-coronel Jorge Duarte, compartilha da opinião de Silva. Atuando em uma área problemática - o Complexo do Alemão -, Duarte aplaude a decisão do governador:

- Conversei com subsecretário e ele disse que direitos humanos não é o direito do bandido, mas uma questão social. Não basta combater o crime. É preciso conhecer o terreno em que pisamos. Falta uma interação maior. É a primeira vez que vejo um governo lidar com isso profundamente, tentando puxar os policiais para os problemas da sociedade.

sexta-feira, fevereiro 05, 1999

Metralhado conjunto da PM

Diversas vidraças foram estilhaçadas pelas balas

RIO (Extra) - Até onde viver sob a proteção, ou melhor, sob o teto da polícia é significado de segurança? Vizinhos do Complexo do Alemão, os moradores do conjunto habitacional da Polícia Militar, em Olaria, convivem com a ameaça diária de ter sua rotina interrompida por uma bala perdida. Ontem de madrugada, um tiroteio entre policiais do 16 BPM (Olaria) e traficantes do morro resultou em projéteis que estilhaçaram janelas de dois apartamentos do lugar.

Nem mesmo a presença do batalhão da PM é capaz de inibir a audácia dos traficantes. Basta andar um pouco por ali para verificar diversas marcas de balas nos edifícios do conjunto. Desta vez, os PMs perseguiram ocupantes de um carro roubado, com quem trocaram tiros pelas ruas próximas aos prédios. Por volta das 4h, os bandidos entraram com o veículo no Complexo do Alemão, onde outros homens armados já posicionados também atiraram contra os policiais.

- Foi o maior pânico. Estávamos dormindo no chão da sala por causa do calor. Acho que a bala desviou em algum lugar, porque está raspada em um dos lados. Outro dia, o zelador encontrou duas balas no chão - contou o motorista Paulo Sérgio, de 29 anos, que só teve tempo de levar para um dos quartos da casa a mulher, Andréa Reis, também de 29, e as filhas Paula e Ariane, de 2 e 7 anos, respectivamente.

Assustada com o episódio, Andréa quer se mudar imediatamente para outro lugar:

- A bala vinha na direção da Ariane. Vamos sair daqui. Moramos no conjunto da polícia e não temos segurança - reclamou ela, enquanto ironizava e observava o estrago na janela.

Diante dessa situação, talvez apenas fatores sobrenaturais ou divinos possam providenciar alguma segurança a essas pessoas. Como a imagem de Nossa Senhora, que, por coincidência, estava posicionada como se observasse o buraco aberto por uma bala na janela de Cilone Viana, de 32 anos. A sogra dela, Maria Germana, de 50 anos, dormia no quarto em que o projétil entrou, indo alojar-se dentro de um armário.

- Moro aqui há 20 anos e isso nunca havia acontecido. No início, pensamos que o estado de saúde da minha sogra, que tem problemas cardíacos, tivesse piorado. Ela começou a chorar e ficou tão abalada que tomou calmantes para poder dormir - disse ela, descartando a possibilidade de abandonar o apartamento, que é vizinho ao de Paulo Sérgio.

quarta-feira, fevereiro 03, 1999

Polícia investiga execução

Patrulheiro foi morto com 19 tiros em Cordovil

RIO (Extra) - O policial rodoviário José Moraes Filho, de 52 anos, estava marcado para morrer. Ele foi assassinado ontem, às 6h, na porta da casa do irmão, em Cordovil, onde aguardava a mulher, Marilene Pacheco Moraes. Para o delegado Paulo Passos, da 38DP (Irajá), Moraes Filho foi executado. A suspeita é sustentada pelas 19 cápsulas de calibre 45 e 380 encontradas junto ao corpo, quase todas certeiras, atingindo a cabeça e o tronco.

- Tem cobra mandada. Ninguém dispara tantas vezes à toa. Foi uma execução. Acho que não teremos dificuldades para resolver o caso - afirmou o delegado.

A hipótese de reação a um assalto foi descartada pela polícia. Moraes Filho morreu a três passos de seu carro, um Palio que estava com as janelas abertas e não teve qualquer acessório roubado e nenhuma marca de tiro na lataria.

Policial rodoviário desde 1975 e a um ano da aposentadoria, José Moraes Filho trabalhava na Via Dutra e tinha uma folha de serviço sem infrações e com três menções honrosas, sendo uma delas da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 1992.

Descrito pelos vizinhos como uma pessoa discreta e prestativa, Moraes Filho não tinha inimigos, de acordo com sua mulher e a filha Renata.

- Ele não tinha nenhuma rixa - disse Marilene, sem idéia do que possa ter acontecido ao marido.

As investigações, porém, esbarram na lei do silêncio, faltando desvendar o motivo do crime. Amanhã, o delegado Paulo Passos irá intimar os parentes para depor, em data ainda indefinida.